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cachorro.gifEstava discutindo esses dias com a Raquel sobre minhas preferências em livros. São meio estranhas. Não tenho paciência com narrativas "secas", que só descrevem os personagens, seus passos, suas emoções, mesmo que a história seja muito boa. O que me interessa não é a história, mas o jeito como ela é contada. Mais forma do que conteúdo.

Acabei há pouco de ler As Correções, do Jonathan Franzen, que é delicioso. As metáforas, as comparações, a insanidade do texto exagerando a insanidade dos personagens, tudo é maravilhosamente louco e criativo. Mas tenho que reconhecer que a história, se vista separada do estilo do autor, é o velho clichê da família problemática e da crítica à moral americana. Mesmo os personagens, mesmo que nada rasos, são cópias de coisas que você já viu em outro lugar. Não interessa - o livro, pra mim, ainda é fantástico.

O Estranho Caso do Cachorro Morto, de Mark Haddon, é outro exemplo. Se você deixar de lado o fato de que a narração é feita por um menino autista, é mais uma história comovente sobre uma criança com problemas mentais. O que torna o livro interessante é justamente a narração - Chris, o menino autista, é super-inteligente e obsessivo-compulsivo quanto a detalhes de organização, horários, descrições, e dá longas explicações, às vezes de páginas e páginas, sobre cada um de seus passos. Sua concentração em resolver o caso do cachorro morto só dá algumas brechas para o leitor perceber uma história muito mais complexa, sobre a relação de Chris com a família. Para ele é só um pano de fundo, para nós e para o autor é a história do livro. Isso que torna ele diferente, criativo.

(O livro também me fez pensar que eu sou um quase-autista. Fora a super-inteligência, e apesar eu ter um arremedo de desenvoltura com outros seres humanos, sou bem parecido com o Chris.)

Como exemplos contrários, não consegui passar do segundo capítulo de O Código Da Vinci e tive vontade de fechar o livro e bater com ele na minha cabeça a cada página de Os Milionários (resenha no Omelete em breve). Por mais interessante que possam ser, não me davam entusiasmo pra virar a página.

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Fico feliz que tenhas gostado, embora com pouco entusiasmo. :)

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This page contains a single entry by Érico Assis published on janúar 29, 2005 9:18 EH.

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