Não gosto de acompanhar notícias sobre filmes baseados em quadrinhos. Primeiro, porque eles demoram anos para ir do anúncio até a tela - comecei a ouvir falar do novo e grandioso filme do Homem-Aranha quando comecei a ler. Segundo, porque quando chegam, eles são uma decepção - Homem-Aranha, exemplo de novo. Terceiro, porque eles não apenas são decepções, mas também desperdício de película - preciso dizer qual é o exemplo?

Mas eu estou preocupado com V de Vingança. V é mais uma obra de Alan Moore sendo transportada para a telona, e Moore não teve sorte nenhuma com as adaptações até agora. Do Inferno e A Liga Extraordinária destruíram as chances de sucesso crítico que as obras originais poderiam ter fora do mundinho limitado de quem lê gibi. Constantine, que também é criação de Moore, deve fazer o mesmo.

Mas V de Vingança é especial. É o trabalho mais bem cuidado de Moore, detalhadamente preparado (com desenhos excepcionais) para passar uma mensagem política especial para os anos 80, quando foi escrita, mas que ainda serve para hoje. Se tivesse sido uma obra "séria", como um livro, e não um gibi, estaria até hoje sendo discutida junto a 1984, Admirável Mundo Novo e outros clássicos dos futuros distópicos.

Warren Ellis esses dias falou, assustado, que o roteiro adaptado tinha transformado a história sob a Inglaterra fascista em "o que aconteceria se os nazistas vencessem os britânicos?". Rich Johnston fez um ensaio apaixonado sobre a história e sobre a importância que sua mensagem teria hoje. E a coletiva de imprensa sobre o filme foi mais dedicada a saber como Natalie Portman sente-se trabalhando longe de casa do que falar sobre o roteiro.

Moore sempre diz que não está nem aí para seus filmes. O que ele quis fazer já está feito, nos quadrinhos. Ainda por cima ele enche os bolsos com cada adaptação, não tem mesmo por que estar preocupado. Os fãs, coitados, é que têm que sofrer com a expectativa.