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ebad.jpgA tese do Steven Johnson em Everything Bad Is Good For You: How Today's Popular Culture is Actually Making us Smarter é de que programas de TV e videogames deram um salto em complexidade narrativa que demanda mais das nossas capacidades cognitivas e, por conseguinte, nos deixam mais inteligentes. Ou seja, ao contrário do que os chatos de plantão pregam: que ninguém lê e por isso estamos virando estúpidos. Será que as coisas são simples assim?

Johnson usa de exemplo séries como 24 Horas, Sopranos e Plantão Médico, e games como GTA, The Sims e o último Zelda. Todos exigiriam uma imersão em redes sociais, tramas recorrentes e problem-solving que seria igual ou maior do que a exigida em um romance clássico ou uma aula de economia.

Tem pelo menos dois pontos de crítica aqui. Primeiro: para cada série shakespeariana como Sopranos ou Six Feet Under, há quinhentas Nazaretes (e suas equivalentes da TV americana) gritando, três vezes por capítulo, "eu sou louca e quero matar essa do Carmo!" - para lembrar o público de que ela é louca, gritona e que quer matar a do-Carmo - e dois mil Palpatines delirantes com "PODER! PODER ABSOLUTO!". Qual é a audiência desses shows? Isso é salto de qualidade narrativa ou pulverização do público? Há bilhões de considerações econômicas e culturais antes de se dizer que o grau de complexidade das narrativas está crescendo globalmente.

Segundo: ficamos mais inteligentes para quê? Johnson fala de seu sobrinho, que em meia hora de SimCity sabia que diminuir os impostos do bairro decadente aumentaria a taxa de crime no bairro vizinho. Uau, que perspicácia: ele descobriu uma das leis da física que governa o jogo. Inteligência não seria se ele internalizasse esse tipo de problem-solving para traçar paralelos com seus problemas futuros pessoais/profissionais/outros?

Não quer dizer que o livro seja ruim. Bem pelo contrário. Estava faltando um defensor legal dos games e das boas séries de TV. Tem até (graças a uma contribuição certeira do Henry Jenkins) meia página sobre a complexidade dos quadrinhos contemporâneos! Só por iniciar a discussão, Johnson já merece o elogio. E mais: é seu melhor livro desde Cultura da Interface, justamente porque ele não fica preso a estudos e entrevistas e coisas. Apenas joga suas beautiful mad ideas num texto divertido. Assim, sem pretensões, ele é muito mais interessante.

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Adoro o Johnson e Cultura da Interface marcou a minha vida (não estou exagerando), e fiquei bem curiosa em ler esse novo livro. Realmente, ele tem beautiful mad ideas, e seu empenho em defendê-las, mesmo quando elas são absurdas, já é louvável. :) Só iniciar a discussão já faz valer a pena considerar o que ele tem a dizer. Na verdade, é como se ele levasse ao pé da letra um dos pontos que ele mesmo levanta no Cultura da Interface: as vanguardas, por mais herméticas e absurdas que sejam, servem para "pelo menos" dar um chute no traseiro do comodismo e empurrar o desenvolvimento de qualquer forma de conhecimento para frente :)

Adorei o post, muito bem fundamentado :)

emistry.com I may tell you, between ourselves, that these six Meditations contain all the foundations of my physics. But please do not tell people, for that might make it harder for supporters of Aristotle to approve them. I hope that readers will gradually get used to my principles, and recognize their truth, before they notice that they destroy the principles of Aristotle.

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This page contains a single entry by Érico Assis published on júní 17, 2005 11:43 FH.

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