Agora me ocorre que a McSweeney's deixar The Future Dictionary of America de graça não é acaso. O livro foi feito para levantar fundos anti-Bush nas eleições de 2004, e é famoso pelo seu verbete "Bush" (escrito pelo Paul Auster): "a poisonous family of shrubs, now extinct". No futuro - o futuro que a gente pode prever hoje, com segurança -, ninguém lembra de George W.
* * *
Until now, my identity as a writer has never overlapped with my identity as an American — in the past eight years, my writing has often felt like an antidote or correction to my Americanism. But finally having a writer-president — and I don't mean a published author, but someone who knows the full value of the carefully chosen word — I suddenly feel, for the first time, not only like a writer who happens to be American, but an American writer."
Jonathan Safran Foer, no San Francisco Chronicle.
* * *
Brian Wood escreveu no Twitter, depois reforçou numa entrevista: complicado escrever futuros apocalípticos como o de DMZ quando você está feliz com seu governo. Lembro também de uma tirinha do Jim Mahfood de 2004, dizendo algo tipo "ok, é uma merda que o Bush tenha sido reeleito, mas pelo menos temos mais 4 anos de quadrinhos, de filmes, de arte e de cartuns maravilhosos pela frente".
Da mesma forma que guerras são tudo para o desenvolvimento tecnológico, governantes porcaria são o melhor impulso para a crítica e a criação. Com Obama, pelo menos no primeiro momento, os EUA podem ficar criativamente apáticos. O Obama-sósia do Saturday Night Live pega uns tiques legais, mas parece que o ator quer gritar "eu não sei fazer caricatura desse cara!".
* * *
Ontem caí na Fox News, zapeando, e Bill O'Reilly tava dizendo que McCain perdeu porque não deu alternativas pra crise econômica, enquanto Obama focou o último mês nisso. Mas Obama foi eleito, diz O'Reilly, pela extrema esquerda (ele queria dizer "comunistas"), porque havia promessas de transformações sociais, melhor distribuição de renda, essas coisas liberais. Com a crise, ele vai ter que segurar o orçamento e colocar o "socialismo" de lado, o que vai deixar a extrema esquerda fula. "E agora, o que vai ser?", pergunta O'Reilly, feliz por ter encontrado um subterfúgio para chamar a maioria eleitoral norte-americana de burra.
Bill O'Reilly que é o cara, agora.
* * *
Update: O Vulture faz a mesma pergunta. Como se faz comédia política agora?