Via Leituras do Dia, cheguei nessa matéria da Carol Bensimon sobre a Shakespeare & Company.
(Falando nisso, estou há semanas para escrever sobre o Leituras do Dia: que leio o blog há uns sete, oito anos, que é o lugar que faz a seleção para eu não ter que ler toda a Bravo, toda a New Yorker, toda a New Scientist e toda a Timeout, entre vários outras, e que acabaria não lendo nada dessas revistas se não fosse pelo Rodolfo. Parafraseando o David Remnick (acho), é blog para quem não mexe os lábios quando lê.)
Então, a Shakespeare & Company. A matéria trouxe memórias. Óbvio que fui lá mais de uma vez durante os cinco dias em Paris, em janeiro. A primeira seguindo o mapa, dando uma volta complicada para descobrir que ela ficava a três quadras do hotel. A segunda, depois que decidi acabar rapidinho o What is the What, que estava lendo desde o início da viagem, para deixar na livraria.
Sim, eu quis dar um livro à Shakespeare & Company, ao invés de comprar um. Afinal, todo mundo faz isso.
Eu queria explicar meu desejo-literário-invertido no caixa. A Marcela me convenceu a só largar o livro numa estante. Anotei minhas intenções e meu e-mail na folha de rosto e deixei perto da parte de quadrinhos (sim, a Shakespeare & Company tem quadrinhos - inclusive com uma observação na prateleira (do Whitman?) sobre como começou a dar valor a HQs depois de ler Persepolis).
Meio como expiação, comprei um livro (The Book Lover, seleções de literatura pela Ali Smith). O cara do caixa estava ouvindo bossa nova. Seco, olhou para meu cartão de crédito e disse "your card is Brazilian". Respondi "yeah, your music too". Acho que ele não gostou: "yes, I know it is Brazilian". Só complicou mais meu sentimento de incompreensão semiótica-cultural de toda a viagem.
Uma semana depois, recebi e-mail de uma Kristobel Harding, que encontrou o What is the What na livraria e disse que ela e o caixa acharam a brincadeira divertidíssima. Estava em dúvida se, depois de ler, devia deixar o mesmo livro lá ou em alguma outra livraria (ela estava indo para Praga), ou mesmo se podia criar uma corrente deixando outro livro. Até hoje não respondi esse e-mail - acho que ainda estou pensando na resposta certa.
* * *
Falando de e-mails, de livros e da matéria, também lembrei que, ano passado, comprei o livro da Carol Bensimon direto da própria. Já lia-a no kevin arnold para dois fazia uns anos. Falamos por e-mail, fiz o depósito e ela avisou que ia postar o livro logo antes da sua banca de dissertação. Até dei o conselho que a resposta padrão na banca é "concordo com sua observação, professor, mas acredito que isto renderia uma nova pesquisa e foge dos meus objetivos".
E agora lá está ela, em Paris, fazendo doutorado, acabando primeiro romance e escrevendo matérias pra Bravo sobre a Shakespeare & Company. Sei que a gente tem que aceitar essas coisas como normais hoje em dia, mas ainda acho bizarro isso de falar de tão perto, até dando conselhos, com gente que você admira.