The Hours


- Eu comprei o romance do Michael Cunningham meio que por acaso, num dia em que estava retornando da entrevista do mestrado. O livro tinha sido lançado há pouco tempo e xeretando pelas estantes, descobri uma cópia autorgrafada pelo próprio Cunninghan. "To Jacky". Meu nome não é esse, mas e daí? Eu poderia ser Jacky. E depois, quem se importava? Era uma cópia e uma cópia autografada. Podia valer muito um dia. Comprei e li naquele dia mesmo.

"As Horas" é um romance excepcional. Intimista, sincero e inquietante, narra a história de três mulheres. Virginia Woolf, a escritora que transita entre a perturbação mental e a genialidade, enquanto escreve "Mrs. Dalloway", que culmina em seu terrível e asceptico suicídio em 1941; Laura Brown, uma dona de casa que vive à sombra do marido na década de 40, grávida do segundo filho, fã de Virginia e que lê o romance "Mrs Dalloway" exatamente naquele momento; e Clarissa Vaughn, uma editora de Manhattan, envolvida no drama de um amigo homossexual e aidético terminal. As três mulheres convivem ao mesmo tempo, nas mesmas páginas do livro, em situações ao mesmo tempo opostas e similares.

A genialidade de Cunningham está em construir o espelho com três faces, para que apenas o leitor, de sua posição privilegiada, consiga construir em seu íntimo a costura das três histórias e perceber, nas entrelinhas, os mistérios, desilusões e anseios da alma humana em meio à balidade do cotidiano. A beleza do livro reside exatamente no íntimo individual de cada uma das mulheres enquanto procura compreender o seu momento, ao mesmo tempo em que descortina-se diante de cada uma delas, breves relances das situações das outras duas. "As Horas" ganhou o prêmio Pulitzer de 1999.