Fale com ela


- Acho que eu e o Almodóvar não nos entendemos bem. Ele é aquele tipo de cineasta que gosta de dar um tom intimista para suas tramas, tentando fazer com que situações pouco comuns soem como banais, e que detalhes da vida diária continuamente repetidos façam algum sentido. E eu gosto normalmente disso. Mas no trabalho do Almodóvar, apesar das cores berrantes e da tipicidade das relações humanas nada convencionais que permeiam suas obras, as coisas não fazem muito sentido para mim. Quero dizer, a impressão que eu tenho é que ele tenta soar como a Clarice Lispector, mas sem a mesma delicadeza e sem conseguir amarrar direito o conjunto. Algumas vezes, a banalização de suas situações esquisitas me parece grosseira. Outras vezes, sentimentalóide. E outras tantas, simplesmente, sem sentido.

Fale com Ela é um filme sobre a solidão causada pelos desencontros da vida. Dois homens se encontram por causa destes desencontros e começam a relacionar-se dentro de um hospital, onde suas amadas estão em coma. Falando com elas. Cenas bizarras, personagens surreais e até uma aparição do Caetano Veloso permeiam o filme. Sem falar em várias citações de Jobim e músicas brasileiras. Almodóvar é estranho. Mas tenta ser um estranho comum, o que soa ainda mais estranho.