[Life is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing]


Essa chamada shakespeariana introduz um comentário de Admirável Mundo Novo, do Aldus Huxley, que li ontem à noite. Comparações com 1984, do Geroge Orwell são óbvias. Afinal, ambos tratam de uma sociedade totalitária, onde a felicidade é obtida através da supressão do livre-arbítrio, um pelo condicionamento e manipulação biológica (Huxley), outro pelo condicionamento e manipulação mental (Orwell). Em comum, nas duas histórias a informação, o conhecimento e o pensamento individual são banidos dessas sociedades. As sociedades são as massas. O indivíduo deve ser sufocado pelo comum. Apesar de Orwell centrar sua crítica na máquina pública e na ditadura do pensamento único, gostei mais do trabalho de Huxley. Ele é mais sutil, mostrando, ao mesmo tempo, as benesses de uma sociedade onde ninguém pensa e a felicidade condicionada à supressão da dor e da capacidade crítica. Por mais estranho que seja, faz sentido. Nossa infelicidade é fruto de nossa própria capacidade de pensamento, de nossa eterna insatisfação com o mundo. O que faríamos se nos fosse oferecido um anestésico, uma droga, capaz de nos deixar eternamente felizes, sem medo da morte, sem filhos, nem pais... felizes, mas que nos roubasse toda a individualidade e a capacidade de pensar? Qual o risco de uma sociedade em que todos somos células, ao mesmo tempo necessárias e substituívei? Intrigantes e, sobretudo, perturbadoras são as questões propostas pelas duas obras.