[song for Orpheus]




Acabei de ler a Canção de Orpheus da série Sandman do Neil Gaiman. Trata-se de uma reinscrição da lenda de Orpheus e Eurydice. Nessa visão gaimaniana do mito grego, Orpheus é filho único de um dos perpétuos, Sonho (Dream) e da musa Calíope. Orpheus é um músico e poeta (segundo a lenda grega, quando ele cantava e tocava sua música, todos os homens e animais paravam para ouví-lo) e vai casar-se com seu grande amor, Eurydice. No dia de seu casamento, no entanto, Aristaeus (representado, muito adequadamente, por um fauno nesta obra) , seu amigo, tenta agarrar Eurydice, que corre, pisando em uma cobra e morrendo. Orpheus então emudece, desesperado e decide ir ao Inferno suplicar a seus senhores, Hades e Perséfone, pela vida de seu amor. Não vou contar o resto da história, embora a lenda seja muito conhecida. :))))

É muito curioso o modo como Gaiman mistura a sua mitologia (os perpétuos - Dream, Death, Desire, Destiny, Despair, Delirium) e todas os mitos da humanidade. Dono de um estilo sombrio e desesperançoso, seu roteiro é fascinante, na medida em que reinterpreta grandes mistérios e desejos humanos, quase sempre, de maneira cruel. Seu roteiro para a lenda é excelente. Neste especial, ele conta com a arte de Bryan Talbot e Mark Buckingham. Entretanto, a arte é a parte mais fraca da obra. Que me perdoem os fãs, mas eu acho que falta à dupla um pouco da interpretação da sensibilidade que Gaiman deixa transparecer no roteiro. A arte é muito crua, pobre, e no entanto, deixa quase nada à imaginação do leitor. Inspira-se em um estilo realístico, mas ao mesmo tempo, peca em áreas como proporções, movimentos e formas. Tem detalhes muito interessantes, mas no geral, fiquei um pouco decepcionada.