Comentários Atrasados I


- Confissões de Schmidt é o exemplo de uma grande história e um péssimo roteiro. Quando o filme termina, fica aquela sensação de que se perdeu algo, que alguma cena crucial não foi assistida, que faltou costura. Não que o Jack Nicholson não esteja bem. Está, embora seja um tipico papel "Jack Nicholson". A história gira em torno de um homem (Warren Schmidt) que, depois de perder a mulher, começa a descobrir que sua vida não teve qualquer sentido e que precisa impedir a filha de entrar pelo mesmo caminho ao se casar com um vendedor de coisas medíocre. Na realidade, é um filme sobre a solidão. Schmidt descobre, com a aposentadoria, que está só. Que não tem mais serventia para a sociedade e para ninguém. E isso o deprime, depressão essa que atua junto à sua velhice e morte próximas. Sua incapacidade de lider com coisas práticas, sua incapacidade de deter a filha, sua total inércia e insatisfação com a vida que teve. Onde tudo deu errado? É um filme que, normalmente, agradaria. Trata das pequenas coisas da vida, do cotidiano, do dia-a-dia e, através desses fragmentos, constrói uma discussão maior sobre o sentido da existência. O problema é que o Alexander Payne (diretor) não consegue tirar essa discussão da superficialidade, talvez pela ambição em retratar várias situações rápidas e tentar aprofundá-las depois, sem nenhum sucesso, talvez pela mania irritante de colocar cenas de humor duvidoso ou de tentar fazer com que o espectador engula "goela abaixo" mais uma tragédia cotidiana. No fim das contas, é medíocre, exatamente, porque tentar ser um pouco de tudo e não é nada. Acho que ele deveria ler mais Clarice Lispector. *** BTW, o site do filme é muito bonito.