Moralizar a Universidade Pública


- Um artigo do Marcos Oliveira se propõe a discutir o motivo da idéia de cobrança nas universidades públicas, no Observatório: E, finalmente, a quem interessa diretamente o fim da gratuidade na universidade pública? Bem, o que se pode dizer é que, depois de semanas de brigas intestinais entre representantes dos centros universitários e universidades privadas, nada melhor que unir os interesses da iniciativa particular educacional em torno de um tema que pode colocar em risco o patrimônio das instituições federais de ensino. Reducionista. No artigo inteiro o autor defende a universidade pública e condena a privada. Como se a existência de uma fosse condição para que a outra não pudesse existir. A maioria da universidades privadas no País tem sérios problemas porque as estimativas apontam que cerca de 60% do quadro dos estudantes é habitualmente inadimplente. A bolsas concedidas pela iniciativa pública são escassas e o crédito educativo abarca muito pouca gente. Como elas sobrevivem? Investimento externo - a maioria é sustentada por ordens religiosas, que não têm interesse no lucro de um modo direto, mas na auto-sustentação da universidade. Exatamente por isso, as coisas são regradas. Enquanto em uma universidade privada é preciso prestar contas de cada folha de papel gasta, na universidade pública, a regra é a falta de regras. Ainda na semana passada estive na UFRGS, para tentar (pela terceira vez) fazer um documento. O horário de atendimento, segundo o cartaz, era a partir das 08h30min. Preciso dizer que não foi? Eu, que pretendia chegar a tempo para a aula das 09, fiquei das 08h30min até umas 09h20min esperando. A funcionária, parece, teve uma reunião (embora outras funcionárias tenham avisado que o setor nunca funciona antes das 09, porque tem o "horário do cafezinho" antes). Enquanto eu esperava (junto com outras pessoas) questionei outra funcionária do prédio (na realidade, eram três funcionárias, todas sentadas em um banco conversando e tomando café) sobre os motivos do atraso. Ela me olhou surpresa: Isso é UFRGS, minha filha. Tu já viu (sic) universidade federal ter horário? e encerrou a conversa. As universidades federais têm problemas, sim. O primeiro deles é o desperdício de recursos públicos. Enquanto os prédios caem, três ou quatro funcionários que não fazem absolutamente nada estão sentados em um banco vendo o movimento. Os horários raramente são cumpridos. As bibliotecas estão sucateadas, os professores mal pagos e insatisfeitos. Os laboratórios não funcionam. A única maneira de corrigir isso é aumentando a fiscalização. É proporcionando à universidade pública uma auditoria de gastos, verificando, exatamente, para onde vai o dinheiro. Eu mesma já presenciei todo o tipo de babaridades dentro de universidades públicas (nepotismo, bolsas de "pesquisa" concedidas a amigos de alguém que jamais pesquisaram coisa alguma, funcionários que simplesmente iam embora durante o expediente e apareciam dois ou três dias depois, sem quaisquer explicações, etc.) É preciso, antes de defender a universidade pública, moralizá-la. Vamos deixar claro que não sou contra a universidade pública, acho que ela é necessária ao Estado (vejam o que discuti alguns posts abaixo). Estou questionando, apenas, a falta de moral que rege este serviço como um todo. E ao mesmo tempo, questionando o artigo do Marcos, que aponta as universidades privadas como principais interessadas no "fechamento" da universidade pública.