Uma Comovente Obra de Espantoso Talento


- Resolvi dar mais uma chance ao Dave Eggers e retirei a poeira de "Uma Comovente Obra de Espantoso Talento". O livro, em um tom autobiográfico, narra as tragédias da vida de Eggers, que com apenas 22 anos perdeu o pai e a mãe num curto período de tempo e ficou sozinho com o irmão mais novo Toph, de oito anos, e com a irmã Beth, 23. Sozinhos, os três resolvem ir para a Califórnia (sempre ela). O estilo de Eggers é um pouco chocante: Ele escreve em um tom alegre, por vezes, sarcástico, beirando o humor negro. O livro trabalha com uma crônica de uma idade díficil (Dave acaba de sair da faculdade), e com aquilo que o Dan Savage da Salom qualificou como "a memoir about becoming". E o que é mais estranho: são as memórias de alguém de vinte e poucos anos. A minha primeira impressão de "Uma Comovente Obra" foi que Eggers era um cara com mais pretensão do que talento. Eu estava errada. Depois de brigar tanto com o livro, sou obrigada a reconhecer que ele tem o dom. Mais do que devorar um livro, Eggers obriga o leitor a experimentá-lo aos poucos, digerindo cada pedaço da obra. Não é possível ler como se lê um "blockbuster", do início ao fim. É preciso parar, pensar, refletir, digerir e depois seguir adiante. Definitivamente, Eggers é o mais original que tenho lido por aí. Ele trabalha com combinações de sentimentos (escrever é sempre sobre sentimentos, não é verdade?) incomuns, conflituosos e irônicos. O leitor não sabe se deve rir ou chorar. É um escritor do cotidiano, mas através desse cotidiano, é possível perceber a desagradável ironia da vida. Fãs do Nick Hornby, vocês vão adorar. Eggers é o Hornby com talento. >:)))) Eggers lançou agora em julho o segundo livro - You Shall Know Our Velocity. Li poucas críticas do trabalho. É a história (desta vez ficção) de dois amigos que tentam superar a morte de um terceiro. A crítica do Peter Kurth, da Salon, tem mais informações. :) E eu copio um pedacinho do livro que ele cita na matéria, do qual eu particularmente gostei: "I tried to nap," Will reports, "but now my head was alive, was a toddler in a room full of new guests. It jumped and squealed and threw the books off the shelves ... My mind, I know, I can prove, hovers on hummingbird wings. It hovers and churns. And when it's operating at full thrust, the churning does not stop. The machines do not rest, the systems rarely cool. And while I can forget anything of any importance -- this is why people tell me secrets -- my mind has an uncanny knack for organization when it comes to pain. Nothing tormenting is lost, never even diminished in color or intensity or quality of sound. These were filed near the front." Já estou com vontade de ler. :)