Ciência e Pesquisa no Brasil


AA048717.jpg- A questão da pesquisa é um grande problema no Brasil. Paulo de Camargo, freelancer para a Folha, aborda com propriedade o problema nessa matéria.

No Brasil, os mais de 20 anos de estudo não são suficientes nem para a obtenção de uma bolsa, já que o funil é muito estreito. As principais agências de financiamento de pesquisas no país não atendem nem a 10% da demanda por bolsas. Para ter uma idéia, somente o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) tem cerca de 16 mil pedidos de bolsa para 2004, dos quais espera atender a apenas mil.


A meta do governo é aumentar o número de doutores no País de 7 mil para 10 mil por ano. Muito bom. O único problema é que não existe mercado para a pesquisa no Brasil. O que fazer com esses novos 10 mil doutores? As universidades públicas pagam mal e não abrem vagas há anos. As privadas já estão com o seu quadro de professores quase lotado e, em sua maioria, investem recursos reduzidos na pesquisa. Centros tecnológicos? Não existem. Centros de Pesquisa? Raros onde se paga pouco e não se tem investimento.

A realidade é duríssima. As instituições financiadores da pesquisa no Brasil, como a CAPES, o CNPq e, no nosso caso, a semi-moribunda FAPERGS, operam cada vez mais com recursos escassos. A realidade é que não existe uma política de investimento em pesquisa e tecnologia no País. Mais do que isso, o Brasil produz pouco. É a maior produção da América Latina, eu sei, mas produz pouquíssimo se comparado a centros como EUA, Europa ou mesmo Ásia. Por que? Porque as condições de trabalho com pesquisa são precárias por aqui. Os editais são concorridíssimos. A maioria dos pesquisadores pode passar a vida sem conseguir um tostão das instituições financiadores.

A conseqüência é óbvia. Insatisfeitos e desiludidos com as condições de trabalho no Brasil, os pesquisadores vão embora. O Brasil é um grande exportador de mão de obra barata e super-qualificada. Eu conheço vários doutores e pós-doutores que hoje trabalham em centros de pesquisa no Exterior e não se arrependem, pois recebem todos os incentivos e condições para atuar naquilo que gostam e para o qual, investiram anos de suas vidas.

A formação de um doutor ou pós-doutor leva, em média, 20 anos. O candidato é obrigado a passar por processos de seleção duríssimos, onde é exigido dele uma formação que praticamente inexiste nos bancos acadêmicos da graduação, que é a formação científica; tem que concorrer por bolsas, por vagas nos programas; apresentar trabalhos (de preferência, no exterior, muitas vezes arrumando dinheiro em seus próprios bolsos), publicar, apresentar relatórios o tempo todo (os resultados são exigidos ao extremo) e ainda subsistir com uma verba pequenininha. Muitos desistem pelo caminho. Vários, mais teimosos, formam-se doutores sem emprego.

A verdade é que o problema é sério e precisa de atenção. Gerar mais doutores não é garantia de desenvolvimento tecnológico. É preciso aumentar fortemente os investimentos em pesquisa, se quisermos um dia sair do barco do terceiro mundo. Sem pesquisa, não se produz tecnologia nem desenvolvimento. E para que se produza pesquisa, é necessário investir. Se, ao invés de tentar aumentar o número de doutores, o governo trabalhasse com uma política de investimento que não obrigasse os atuais pesquisadores a comer o fígado um do outro, poderíamos falar em "luz do fim do túnel". Ou isso, ou vamos continuar investindo em cérebros para vendê-los a um custo baixíssimo a empresas e centros de pesquisa no exterior.