Michael Moore e o Brasil


moore.jpeg- A Folha Ilustrada de hoje traz uma apresentação escrita pelo Michael Moore do seu livro "Dude, where's my country?" (título parodiado do filme "Dude, where's my car?") que foi lançado no Brasil como "Cara, cadê meu país?". Entre as várias coisas ditas aos brasileiros (confira aqui a apresentação do livro, na íntegra), ele afirma que:

Recentemente, em viagens ao exterior, as pessoas me agradecem e me saúdam como "o único americano são". É um cumprimento, mas não é verdade. Eu posso garantir a vocês que nem toda a América enlouqueceu. Por favor, jamais esqueçam esta simples e única verdade: a maioria dos americanos não votou em George W. Bush. Ele não está na Casa Branca pela vontade do povo americano. A maioria dos americanos, contrariamente à crença popular, é de fato bastante progressista e liberal - só que faltam líderes realmente comprometidos com o caráter liberal para servi-los. Quando isso for consertado (eu espero que logo), as coisas vão melhorar.


Eu acho que o problema com o Bush não é extamente o fato de ele tomar decisões unilaterais e estúpidas. Acho que o problema é que ele personaliza tudo aquilo que os outros povos mais detestam nos americanos: seu autoritarismo diante do mundo, sua total inaptidão para o diálogo, seu desprezo pelas leis mundiais, sua busca de dinheiro a qualquer custo, seu egoísmo e interesse exclusivos em si mesmos, sua presunção e sua completa estupidez.

Não podemos esquecer que, às vesperas dos 40 anos do golpe militar no Brasil, que todas as ditaduras na América Latina, bem como seus golpes miilitares, foram patrocinados pelo governo americano, apavorado com a possibilidade de que surgissem países "comunistas" no continente. E que essas ditaduras militares, das quais a maioria dos latinos livrou-se há bem pouco tempo, ainda têm cicratizes profundas e dolorosas.

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O Brasil tem de se erguer acima dos seus problemas, do racismo arraigado, do qual muitos não querem nem falar, aos déficits nacionais, sob os quais muitos gostariam de ver seu país esmagado. Fazer frente à América na questão da guerra (e ainda gozar com a cara das políticas de imigração do Bush) foi uma atitude fantástica. Eleger um líder popular que saiu das classes trabalhadoras foi um tremendo passo à frente. Resistir à Alca também é bom. Sigam no caminho, lutem o bom combate.


Apesar do extremo interesse dos governantes americanos em controlar a circulação de informações no mundo, isso é uma tarefa cada vez mais difícil. Sem ditaduras, sem censura e sem meios de comunicação extremamente centralizados, está complicado impedir que as informações circulem. Esse fluxo livre gera problemas, é claro, com coisas como pedofilia e terrorismo circulando mais livremente no mundo. Entretanto, também gera frutos potencialmente positivos, como uma consciência crítica mundial anti-globalização americana, um posicionamento forte no mundo contra as decisões unilaterais de Bush e material como o de Moore circulando pelo planeta. E o mais importante: Esses meios não centrais estão contribuindo para a circulação de informações dentro da própria América, auxiliandoos próprios americanos a desenvolverem um senso crítico sobre seu país.

É encorajador saber que, no ano passado, numa época em que Bush era supostamente tão popular (como a mídia insistiu erradamente em registrar), o livro que os americanos mais compraram e leram, mais que qualquer outro, levava por título "Stupid White Men - Uma Nação de Idiotas", e era estrelado por ninguém menos que George W. Bush. Vocês viram? Nem tudo está perdido!


Às vezes o mundo me dá esperanças. Às vezes eu acredito que um dia superaremos a inegável estupidez da humanidade. Mas só às vezes. O Michael Moore tem um website com um blog, onde estão a maioria de seus manifestos.