Redes Sociais e Orkut


grafo1.jpg- Como todo mundo sabe, minha tese é sobre redes sociais. Não sobre o Orkut, mas sobre redes sociais na Internet como um todo. Então que eu li hoje com surpresa - porque por algum motivo estranho, não achei essa matéria no Mais! no domingo - o artigo do Felipe Fonseca sobreo assunto [aqui em versão Wiki] e fiquei muito interessada em discutir, o que farei aqui.

Dois grandes pontos interessantes do artigo: O primeiro é discutir a questão das comunidades virtuais. Fonseca reclama - e com razão- que hoje, praticamente qualquer "ajuntamento de gente" na Internet torna-se "comunidade virtual".
"Como assim, virtual? Está certo, usávamos meios de comunicação que contam com um alto grau de virtualização para debater novas idéias e mobilizar pessoas interessadas em agir com interesses comuns. Mas o sentido de comunidade era atual, real. Interagíamos pela internet, mas também usando papel e conversando em um bar."

Essa é a minha grande crítica: Comunidades Virtuais só acontecem entre grupos que interagem com freqüência e através da Internet. É virtual porque representa um grupo que, fora da Internet, não possui um locus onde a comunidade possa ser encontrada. É só no ciberespaço que essa comunidade tem forma. Entretanto, isso não quer dizer que qualquer coisa seja "comunidade virtual" ou, como eu vejo por aí, pessoas que vão "criar comunidades virtuais". Uma comunidade é um grupo de pessoas que interage através da comunicação mediada por computador - então qualquer coisa que não permita a interação via CMC, como um site, por exempplo, não é uma comunidade virtual. Depois, essa comunidade precisa ter interesses comuns e participação de todos. Claro que pode haver níveis de participação, mas já vi grupos em que ninguém interage com ninguém serem chamados de comunidades. Ora, sem interação não há construção social, objetivo comum ou simplesmente troca. É um grupo de pessoas sem qualquer relação entre si, a não ser o fato de estar listado no mesmo lugar.

Discutida a questão da comunidade, resta o segundo ponto: problema do Orkut e das redes sociais. Com o o Felipe coloca, existe um certo frenesi em torno das redes sociais, definidas por ele:
"Trata-se de ambientes que mapeiam a rede de relacionamentos das pessoas e permitem a organização de grupos com interesses compartilhados, debates sobre esses interesses, e alguns outros meios de interação."

Concordo. Entretanto, dentro do próprio Orkut cada vez mais percebo que a interação é pequena. A maioria das comunidades - com óbvias exceções para o "como ou não como", apesar de ter 300, 500 ou 600 membros, limita-se a um novo post por dia, que é comentado poucas vezes e nem sempre pelas mesmas pessoas. O assincronismo da comunicação parece prejudicar a interação, que por se estender no tempo, acaba sendo incompleta (eu coloco uma mensagem e nunca mais volto para ver o que foi respondido ou se foi). Será que isso é efetivamente representativo na questão das redes sociais?

As redes são compostas de nós - as pessoas - que precisam estar interconectadas - através da interação. Se não existe interação, existe rede? Ou será que é apenas um conjunto de nós, sem arestas? Vejo grandes hubs no Orkut, cheios de amigos e conhecidos com os quais jamais interagiram. Isso é uma rede social? Do meu ponto de vista, está mais para o simulacro da rede e de capital social, bem ao estilo baudrillardiano de ser, uma simulação de uma rede. Uma simulação de amizade. Uma simulação de troca.

Já não sei se, como o Felipe, acredito na tecnologia social como ponto para gerar conhecimento coletivo ou ação conjunta, ou a vejo como um produto social que, se não existe entre redes jah estabelecidas no mundo concreto, não encontra eco no virtual. Ou não.

Por fim, o artigo é um tanto o quanto positivo demais, mas consegue construir um ponto de vista com algum aprofundamento, o que sempre é raro em jornais, mostrando as possibilidades da colaboração do social na Internet e não criando estereótipos sobre a tecnologia. Inteligente e esclarecedor. Leiam.