Pós-Graduação no Brasil 2


- A CAPES e o CNPq têm investido em qualificação e em programas de avaliação, o que eu acho louvável e fundamental. Por exemplo, hoje, é inconcebível que se tenha um doutor/mestre que não publique. A pesquisa e a publicização dos resultados são fundamentais. Antes dessa exigência, muitas pessoas simplesmente não tinham publicações nos últimos dez anos. Outra coisa ótima é a avaliação das revistas e congressos, com valorização da pesquisa e o reconhecimento do envolvimento dos conselhos editoriais na qualificação das publicações. Entretanto, muitos problemas ainda continuam persistindo.

O primeiro deles é o mais óbvio: A falta de verba para pesquisa. É muito complicado conseguir fazer pesquisa em áreas "menores". A Folha salienta que em algumas áreas, como as Sociais Aplicadas, não há programas de pós graduação coma a avaliação máxima no Brasil. Verdade. Essa é uma das áreas que menos tem possibilidade de adquirir investimento externo (o que tem sustentado as tecnológicas e exatas, área de excelência no Brasil, de um modo geral). E sem investimento dos órgãos governamentais, é cada vez mais difícil conseguir qualificar esses programas. São programas jovens, é verdade também. Mas são áreas onde o investimento é tão escasso, que os pesquisadores, apesar de conseguir produzir trabalhos de ponta, raramente conseguem alguma verba para publicizar, por exemplo, internacionalmente, seus trabalhos. E é complicado sobreviver tendo que pagar para mostrar o resultado de uma pesquisa de ponta em congressos onde a mera inscrição do trabalho, já custa mais de 300 dólares.

O segundo deles é um certo "egessamento", na avaliação, que impede a valorização, por exemplo, de trabalhos multidisciplinares, que no meu entender, são uma grande e importante força na Ciência. Eu acho que, na ciência, é impossível delimitar áreas com paredes. Onde acaba a física e onde começa a matemática? Onde acaba a informática e começa a matemática? Onde acaba letras e começa comunicação? Onde acaba comunicação e começa informática? Por que um trabalho que intersecciona várias áreas do conhecimento não deve ser valorizado? Então, ao contrário da maioria (penso eu), acho que o futuro da pesquisa científica está sim na multidisciplinariedade, que é uma forma de fazer com que os pesquisadores saiam do quadradinho que delimitaram como "sua área" e vejam o que as outras ciências têm a contribuir com sua pesquisa.

Por fim, é importante salientar que a pesquisa, no Brasil, vem recebendo importante qualificação por meio desses programas de avaliação da CAPES/CNPq nos últimos anos. Foi um verdadeiro salto de qualidade. Mas que ainda pode ser melhorado quando o País decidir, finalmente, que não há tecnologia sem pesquisa e que não há pesquisa sem programas fortes de investimento em todas as áreas.