7006040.jpgLivros - Graças ao Japa, voltei a ler ficção. Comprei Um domingo para sempre de Sebastien Japrisot na semana passada e acabei lendo ontem.

Não conhecia nada a obra de Japrisot, mas a frase de abertura do livro me encantou: "Era uma vez cinco soldados franceses que faziam a guerra, porque as coisas são assim". Geralmente não gosto de livros que viraram filmes, mas resolvi experimentar depois de ler o princípio do livro. Trata-se de uma narrativa sensível, delicada, e no entanto, feroz, que retrata o impacto de uma guerra na vida e nos sonhos dos franceses. Mathilde é uma jovem determinada e teimosa, que após saber da morte de seu noivo, Manech, decide fazer de tudo para conhecer seus últimos momentos. Enquanto Mathilde investiga, pinta seus quadros e conhece um pouco mais do drama pessoal de todos aqueles que perderam entes queridos, Japrisot guia o leitor através de uma mordaz crítica à inexplicabilidade, insensibilidade e desumanidade da guerra, não apenas para os solados, retirados de suas casas e suas famílias para um cenário de horror, mas igualmente, para aqueles que ficam sem jamais saber o que aconteceu. Japrisot escreve em vários tempos e em nenhum. Ao mesmo tempo que a não-linearidade da narrativa envolve o leitor em um turbilhão de informações e detalhes e sentimentos, ele desenvolve com alguma profundidade os perfis e personalidades de suas personagens. Eu diria que Japrisot escreve como um francês: com sensibilidade, e não com erudição; com detalhes, mais do que com o quadro geral; menos descrições, mais diálogos.

Parece que o autor é muito conceituado na França, como alguém que possui poucas, mas essenciais obras. É daqueles de quem o Érico gosta, com narrativas originais, embora romanceadas, talvez, em demasia. Mas vale a pena. Gostei bastante.

Não li o original, li a tradução. Achei que tem passagens confusas, que certamente fazem mais sentido em francêsl. Já achei um pouco estranho que o nome original é "Un long dimanche de fiancailles" (Um longo domingo de noivado), que faz muito mais sentido para a história do que o título traduzido para o português. Tentarei encontrar a versão francesa para reler.