Mais sobre Livros


- Então, a Deysi, alguns posts abaixo, comentou alguma coisa que me inspirou a escrever sobre livros e sobre sua importância (pelo menos, pra mim).

Meu caso de amor com os livros começou com os gibis. Eu era muito pequena e "lia" os gibis do meu pai, e ficava completamente frustrada porque não entendia o que o Pato Donald estava dizendo. Então eu olhava as figuras e inventava a história na minha cabeça. Com uns 5 anos eu queria muito aprender a ler, porque meus livros tinham figuras maravilhosas e eu não conseguia ler nada e meus pais e avós e tios não tinham paciência para a minha sede de leitura e não passavam 8 horas por dia lendo para mim. Mas, nessa época, o colégio não aceitava as crianças na primeira série antes dos 7 anos e eu, na minha enorme frustração, então, inventava as histórias em voz alta e fingia escrevê-las imitando a escrita dos meus pais. Quando finalmente o sistema me deixou aprender a ler, eu já conhecia a maioria das palavras, de tanto olhar pra elas e inventar um significado. Bem, eu lia então livros infantis, especialmente contos de fadas. Mais tarde, passei para o Monteiro Lobato (eu era fã da Emília) e li praticamente tudo o que tinha dele, depois toda a biblioteca e, enfim, com uns 9 ou 10 anos a bibliotecária do colégio guardava os livros novos da prateleira infantil e infanto-juvenil pra mim porque eu já tinha lido todos os outros.

Nessa época começaram a me deixar retirar os livros da estante dos "adultos" porque demorava muito para chegar livros novos e eu pentelhava demais pedindo coisas pra ler. Um dos meus maiores choques foi com os livros "adaptados". Quando eu comecei a ter acesso aos livros "adultos" (não deixavam a gente ir lá olhar) eu comecei a ver que várias histórias que eu tinha lido eram, na verdade, resumos de histórias muito mais legais, que simplesmente não deixavam na estante das crianças porque achavam muito grandes pra nós. Eu ficava com raiva quando descobria que as adaptações, às vezes, mudavam até o final do livro!

Quando acabaram os livros de casa, meu dindo começou a me dar livros do Mario Quintana, Cecília Meirelles e todos os meus poetas favoritos. As pessoas ficavam chocadas de saber que eu, que era uma criança, gostava de poesia. Qual o problema com crianças gostarem de poesia? Meu presente favorito, desde essa época, já eram livros. E por incrível que pareça, apesar de eu ser uma rata de biblioteca, 90% das pessoas que me conheciam insistiam em me dar bonecas, roupas e outros cacarecos, porque, afinal de contas, crianças e livros não combinam.

Então, eu li de tudo. Tudo o que caia na minha mão eu lia. Antes, porque eu não tinha dinheiro para ser muito seletiva e lia o que tinha na biblioteca. Depois, porque eu tinha dinheiro, mas os livros gastavam ele todo. E lendo, eu aprendi a pensar e a ver o que eu gostava e o que não gostava. Que livros precisavam ser saboreados como uma refeição caríssima e que livros podiam ser lidos de forma descompromissada, como um lanche. Que livros tinham sabor amargo e que livros eram doces. Quais livros eu lia no ônibus, e quais eu lia em ocasiões especiais. (É, eu tenho livros favoritos - como pílulas - para todas as ocasiões.)

Meu ponto é que não importa a qualidade do livro. Livros estimulam a leitura. A leitura estimula o espírito crítico, a imaginação, a escrita e o vocabulário. Não importa se as pessoas lêem Dan Brown. Importa que, lendo Dan Brown, talvez um dia elas se interessem por Umberto Eco e comparem e façam seus próprios julgamentos de ambos. Importa que, lendo Harry Potter, as crianças vão aprender que livros não significam coisas chatas e poeirentas, mas conhecimento, aventura e emoção. E talvez um dia, porque elas leram Harry Potter quando tinham 10 anos, elas leiam Ulysses. E assim, todo mundo pode fazer sua própria biblioteca, ter seus próprios livros-pílula para todos os momentos.

Então, ler é bom. Sempre.