bomb.jpegLembrando de Hiroshima- Hoje faz 60 anos que o Enola Gay Jogou little boy sobre a cidade de Hiroshima, no Japão. A bomba de urânio causou um efeito devastador, pulverizando instantaneamente milhares de pessoas e queimando horrendamente outras milhares. Como se não bastasse, ainda hoje, 60 anos depois dos fatos, os filhos e netos dos sobreviventes, chamados hibakusha, sofrem com as deformações genéticas. Os cálculos apontam que mais de 140 mil pessoas morreram em conseqüência da bomba (praticamente toda a cidade de Hiroshima, uma das maiores do Japão). Entretanto, os números são ainda falhos, porque não se sabe quantas pessoas morreram nas décadas posteriores, em conseqüência do envenenamento.

A história do Hiroshima e Nagazaki (que foi bombardeada com "Fat Man" dia 09 de agosto) sempre foi, para mim, um dos episódios mais chocantes da História. Primeiro, porque mostrou como a ciência pode ser torcida para que se criem coisas monstruosas como a a bomba atômica. Einstein, coitado, nunca se recuperou do que os americanos fizeram com suas teorias. Segundo, porque mostrou a que ponto vai a estupidez de uma guerra completamente imbecil. O Japão era um país praticamente rural, estava perdendo a guerra e o imperador estava, desde janeiro, tentando negociar discretamente a paz. Mas aparentemente, Washington não podia esperar. As bombas apressaram o fim da Segunda Guerra, mas a que custo? Milhares de japoneses, homens, mulheres e crianças foram marcados para sempre por tal ato de desumanidade. O engraçado é que nunca ninguém foi julgado por isso. A bomba, uma das mais terríveis armas de destruição de massa, foi jogada sobre civis desarmados, e sem chance de defesa. Se isso não é um crime de guerra, então não sei o que mais é. Mais do que isso, o bombardeio-teste (vamos lembrar que tinha havido apenas um teste com a bomba nuclear antes de Hiroshima) das cidades japonesas foi um ato criminoso, sádico, repugnante e um crime contra a humanidade.

Ainda mais chocante é a história do ponto de vista japonês. Há um tempão atrás eu li o Hadashi no Gen, a história de um garoto (Gen) que sobreviveu ao bombardeio de Hiroshima. Apesar da simplicidade com que Keiji Nakazawa conta a história deixa entrever os horrores de um atentado sem sentido. Kenji tinha seis anos quando a bomba foi jogada sobre Hiroshima e o mangá é auto-referente. Como Gen, toda a família de Kenji foi morta, exceto por sua mãe, que sofreu os efeitos do envenenamento por muitos anos até morrer. A história é chocante, dramática e, ao mesmo tempo, uma veemente crítica ao militarismo tanto japonês quanto ocidental.

Então esse post é uma forma de lembrar de Hiroshima e Nagazaki, lembrar da bomba, lembrar das crianças deformadas, dos homens e mulheres queimados, das famílias assassinadas, da estupidez de uma guerra e da crueldade sem limites dos senhores da guerra. É uma forma de lembrar dos crimes que foram cometidos em nome da Paz, dos crimes de guerra, dos crimes contra a humanidade, dos crimes que nunca foram julgados. E é também uma maneira de mostrar a minha vergonha por fazer parte da mesma humanidade que fez isso e esperar que, enquanto mantivermos viva a memória dos horrores da bomba, ninguém sequer pensa em usá-las de novo. E que as vítimas descansem em paz.