Sobre a diferença entre sites, comunidades e redes sociais


- Hoje, lendo uma matéria da Folha sobre o uso de softwares sociais nos negócios, comecei a pensar sobre uma das coisas que mais me incomoda na questão de nomenclatura e os conceitos na área. Na matéria, serviços como o MySpace, o Joga.com e outros são tratados como "comunidades", o que é bastante comum. No entanto, eu não concordo com isso.

O conceito de comunidade ser imensamente discutido na área social, há apenas um elemento com o qual todos os autores, invariavelmente, concordam: o fato de que se refere a um grupo de pessoas. Ao mesmo tempo, o conceito de rede social também se refere a uma metáfora estrutural para a observação de atores e suas relações. Ou seja, ambos os conceitos referem-se diretamente à existência de um grupo social. Bem, embora sistemas informáticos como o Orkut, o MySpace e, até mesmo os blogs, estejam relacionados com esses grupos, é preciso que se diferencie que o sistema não é a comunidade. Esses sistemas são, sim, sites de redes sociais (SNS), uma categoria de software social (como o MSN, por exemplo) mas não redes sociais ou comunidades virtuais.

Sites de redes sociais são suportes informáticos que proporcionam que as pessoas, em sua utilização, possam demonstrar sua rede social, construí-la ou mesmo, complexificá-la. No entanto, esses sites, em si, não constituem a rede. A rede é constituída pelos atores - as pessoas- e as interações que são trocadas através do site. Esses dois elementos são, no entanto, resultados da apropriação da tecnologia pelos indivíduos e não uma característica determinada pelo site. Esses sites, como todas as tecnologias de comunicação mediada pelo computador, são elementos de suporte, mas não grupos sociais. Sua existência não é determinante para a existência dos grupos, mas sua apropriação, sim. É possível, por exemplo, que um desses sites não seja apropriado ou utilizado por nenhum grupo social. Ainda assim, o site não deixaria de existir. Mas não seria associado a uma comunidade virtual, pois não há grupos que o utilizem.

Do mesmo modo, compreendendo a comunidade virtual como um tipo específico de grupo social (e portanto, de rede social), não se pode dizer que o site de rede social é uma comunidade virtual. Ele suporta, sim, vários grupos sociais ou várias comunidades e pode auxiliar na formação deles. Mas o site, em si, não é uma comunidade. E mesmo sua apropriação não garante que comunidades serão geradas, já que elas são um tipo de grupo social.

Novamente, essa é a minha visão do assunto. Considero que não se pode confundir o software ou o sistema com o grupo social. O sistema, sem o grupo, nada mais é do que um site/software. Já o grupo, mesmo sem o sistema, continua sendo um grupo. O risco de tratar todo o tipo de sistema como comunidade ou como a rede é aquele de que nem todos os sites possuem um grupo social associado. E nem todo o grupo social associado pode constituir uma comunidade virtual.