divide.jpegO Orkut e o Digital Divide - Na AOIR deste ano, vi (e ouvi) o Jeremiah Spence apresentar o papel do Orkut na "alfabetização digital" do Brasil. Na época, achei um pouco exagerado. Ultimamente, no entanto, a questão tem sido retomada com várias discussões e com diversos colegas e eu comecei a pensar um pouco mais sobre o assunto. Especialmente, tem chamado a minha atenção o que muitos têm referido como a "favelização" do Orkut.

É bem verdade que o Orkut, como site de rede social popular no Brasil, foi igualmente apropriado tanto pelas classes mais abastadas, como pelas classes mais baixas (especialmente pós 2005, quando começou a atingir o chamado efeito de rede). Também é verdade que, com a popularização do acesso no País (já há pesquisas que apontam mais de 39 milhões de pessoas com acesso no País), através dos telecentros e do subsídio dos computadores populares também tem aumentado o acesso. O mais interessante é que isso parece ter um reflexo direto no Orkut. A quantidade de comunidades "territoriais", no caso, referentes às favelas e vilas do Brasil, tradicionais redutos menos favorecidos, começa a crescer muito. Praticamente todas as grandes favelas das grandes cidades possuem representação no sistema. Além disso, é claro, há um aumento da quantidade de usuários dessas localidades menos favorecidas por todo o sistema.

O que é realmente interessante é a apropriação do sistema por esses novos internautas. Mais do que utilizar o Orkut, as pessoas parecem estar criando novos signos e novas linguagens, através de representações sociais características de suas localidades. Linguagem, fotografias, comunidades: há todo um ambiente diferenciado, construído por esses usuários. E parece-me que há uma diferenciação social, uma forma de apropriação digital diferenciada, que parece alienígena para as demais classes ali presentes. É quase um novo muro digital. Só que, ao invés de refletir-se em sites de redes sociais diferentes, aparece no mesmo site. (Como referência óbvia, fica aquele post sobre a apropriação do Facebook e do MySpace por classe social, da danah boyd.) Fico pensando no que uma pesquisa sistemática sobre o tema poderia encontrar. :-)