Livros da Semana


- Então, essa semana eu li algumas coisas interessantes:

2324091.jpg# Eu sou a lenda (Richard Matheson) - Como eu já comentei aqui, é um conto (eu achei pequeno o suficiente para isso) de ficção científica escrito em 1954. Dizem que o Richard Matheson inspirou o Stephen King e todo o gênero de filmes de zumbi (há muitas semelhanças entre os "contamidados" do livro e os zumbis dos filmes do Romero, por exemplo). Eu li essa nova edição em português, porque a Cultura entregava em poucos dias. Ela tem vários outros contos do Matheson (que foram, inclusive, roteirizados para episódios de Twilight Zone. Ou eram episódios roteirizados por ele que viraram contos, depois). Enfim, o conto principal (Eu sou a Lenda) é sobre a história do último sobrevivente de um grande apocalipse causado por uma bactéria. A doença teria causado mutações que animava os corpos dos mortos (que viravam mortos-vivos) e transformado os vivos em vampiros.

Então, o mérito do autor (tendo lido todo o livro) está, certamente, nas idéias. Como o Gaiman, o Matheson tem sacadas geniais para contos de terror e suspense. Agora, o texto é outra história. Sempre fico um pouco temerosa de criticar uma obra que li traduzida, mas... O estilo do Matheson é extremamente direto, com frases curtas, cenas pouco trabalhadas, ordem direta, ação. É como ler um roteiro esburacado. É preciso fazer um esforço para acompanhar algumas partes, especialmente do meio para o final do "Eu sou a lenda", quando as coisas simplesmente deixam de fazer sentido por causa dos "pulos" temporais do autor. Como roteiro, a história é ótima. Como literatura, é terrível. Os contos mais curtos, que estão a seguir, são melhores, mas ainda assim, mal escritos. Enfim, o Matheson me fez pensar que o Neil Gaiman é um privilegiado por ter tantas idéias e escrevê-las de forma bastante razoável.

# Everything is Illuminated (Jonathan Safran-Foer) - Eu já tinha lido o Extremely Loud and Incredible Close (excelente!!) e este estava na minha estante, esperando as férias. O livro reforça a minha percepção de que o Foer é um dos melhores escritores da atualidade. É muito, muito bem escrito, daqueles livros "saborosos", que dá pena ler muito rápido. Lendo no original, tive um pouco de dificuldade no começo, porque o narrador (Alex) parece o Borat escrevendo e a descrição da vida em Trachimbrod compreende uma infinidade de termos da cultura judaica dos quais eu não tinha nenhum conhecimento.

674188.jpg O livro é como um grande manuscrito de dois lados, cujos pedaços são alternados na composição final. O primeiro, bem escrito e culto, conta a história da vila de Trachimbrod, na Ucrânia, onde viveu o avô do escritor (que é também personagem do livro) Jonathan Safran-Foer. Essa parte, deduz o leitor, é o manuscrito do livro. O segundo é o relato da viagem em busca de Trachimbord escrito por Alex, o tradutor ucraniano de Foer, que fala um inglês, digamos, pouco culto. Essas versões (engraçadíssimas) são anexadas a cartas onde Alex explica o que escreveu e o que achou dos capítulos escritos por Foer. Alex , seu avô "cego" e a cadela dele ("deranged seeing-eye bitch," Sammy Davis, Jr., Jr.) acompanharam e guiaram Foer.

# The Complete Short Fiction (Oscar Wilde) - A melhor parte dos contos de Wilde é a ironia por trás da história. Esse livro é um conjunto de vários contos de estilos diferentes, como "The Happy Prince" e "The Canterville Ghost". Muitos dos contos já me eram familiares (lembro de ter lido, por exemplo, uma adaptação - argh!!! - de "O Príncipe Feliz" nos livros do colégio), mas é sempre ótimo poder relê-los. O meu favorito ainda é o "The Canterville Ghost" por causa do humor crítico. Wilde é um autor fantástico porque combina as boas idéias com uma boa narrativa e um pouquinho de humor e drama. Essa minha crítica é também suspeita porque eu tenho uma tendência a adorar os autores vitorianos (nisso eu e a Lady A somos muito parecidas).