socialnetwork.jpgCapital Social e Social Media - Falando um pouco mais sobre essas questões estão Nicolle Ellison, William Reader, Judith Donath, Martin Baily, danah boyd e Steve Chazin no Freakonomics. A questão que norteia o debate é: O MySpace é bom para a sociedade?

A Judith Donath chama a atenção para a competição nas redes sociais e como esses sites podem influenciar adolescentes e crianças em questões como o bullying (que vai a outro nível quando se fala de sites de redes sociais). Também aponta para a mudança da noção de "amigo" e "amizade". O William Reader chama a atenção para os problemas que a digitalização das relações sociais pode acarretar, insinuando que o capital social pode ser destruído por esses sistemas. Martin Baily vai no mesmo sentido. Steve Chazin fala das novas necessidades que esses sistemas criam, em decorrência de seu bom ou mau uso. A danah boyd pega o caminho do meio, dizendo que esses sites são ferramentas e que é difícil prever que tipo de uso as pessoas farão dos sistemas, que pode ser tanto bom, quanto ruim.

Acho que a relação que a Nicole Ellison faz é a mais próxima do que eu penso. Ela aponta para um conceito que construiu em um artigo sobre o uso do Facebook pelos adolescentes. Para ela, sites de redes sociais são importantes porque auxiliam as pessoas a manter determinados tipos de capital social. O conceito de capital social, grosso modo, refere-se aos valores e benefícios que são obtidos através das relações que temos com outras pessoas. São valores emergentes nas redes sociais. A Nicole baseia-se no Putnam e nas leituras dos dois tipos de capital social, bonding social capital, que é aquele tipo de capital social presente nos laços fortes, dos quais decorre intimidade, apoio social e confiança; bridging social capital, que é aquele capital social decorrente dos laços fracos, sem intimidade, mas por onde circula informação na rede (vide Granovetter). A esses dois conceitos, ela acrescenta o de maintained social capital, que seria aquele decorrente da manutenção dos laços sociais previamente estabelecidos. Para ela, o grande valor dos sites de redes sociais (Facebook, Orkut, MySpace) está no fato de que eles auxiliam a manter redes sociais já estabelecidas e aumentar a rede social, de onde capta-se mais informações e mais perspectivas.

A partir desse apontamento, mais direto, acho que é possível perceber a influência do capital social na mídia social e vice-versa. As pessoas usam esses sitemas enquanto perceberem os benefícios que eles proporcionam. Essa mídia tem seu valor nos benefícios que os indivíduos percebem na rede social que está ali presente. Esses benefícios (ou formas de capital social) podem ser variadas. As formas que eu expliquei acima, por exemplo, são facilmente identificadas. Uma ferramenta como o Orkut, por exemplo, permitiu que mais gente pudesse manter contato com mais gente, mesmo através das distâncias geográficas. Familiares, amigos e etc. podem ser mantidos mais próximos com um site de rede social (maintained social capital). Por outro lado, também podemos usar uma ferramenta dessas para conhecer alguém, trocar experiências e criar intimidade. Aí temos o bounding social capital. Por último, o bridging social capital permite que tenhamos acesso a mais informações e proporciona que esses fluxos sejam alterados pelas redes sociais. Essas formas de capital social proporcionaram uma amplificação das redes sociais individuais (para citar o conceito do Barry Wellman), permitindo que se mantenham laços sociais a distância, e que mais informações circulem por esses laços. Mas também ocuparam mais o nosso tempo, exigiram uma constante atenção e estimularam as pessoas a tornar sua intimidade pública. Para compreender melhor esse capital social, sugiro a leitura do artigo da Nicolle e do Charles Steinfield e do Cliff Lampe aqui.

Assim que é difícil perceber até que ponto isso tudo é bom para a sociedade. Individualmente, já comentei no post anterior a questão do uso da mídia social para criar autoridade, gerar popularidade e mesmo, para a fama. Já coletivamente, são outros valores. Por um lado, acho que o valor da mídia social está, justamente, nesse bridging social capital que permite que as pessoas se organizem, trabalhem juntas (como no caso da marcha na Colômbia, que comentei há alguns dias, ou no recente caso comentado pela Wired da vigilância dos internautas sobre os superdelegados americanos , proporcionada pela Rede). E também pode ser usado para inflamar boatos, gerar google bombs (como a que a Preta Gil andou comentando na Folha) e mesmo, para o bullying. Em outras palavras, penso que o capital gerado pela mídia social pode ser apropriado de muitas maneiras, boas e ruins. E você, acha que a mídia social é boa para a sociedade?