publications.jpgMais sobre o Publish or Perish- Saindo da minha maratona reclusiva de leitura e classificação dos textos da Compós, vim comentar uma questão que está gerando um grande debate na blogosfera acadêmica.

O debate começou quando a danah boyd (sim, o nome dela é com minúsculas, ela registrou assim - segunda ela mesma, foi um frenesi adolescente) publicou no blog um post sobre a questão do acesso livre aos journals e papers publicados. A danah mantém os artigos dela para acesso público no blog e costuma enviar para quem pedir os trabalhos. E ela sempre diz que acredita que o fazer científico tem que ser público. Pois bem, ela enviou a postagem para algumas listas e o debate começou. Um ponto foi fortemente atacado: aquele em que ela afirmou que os journals "fechados" são mais valorizados que os abertos. A discussão está espalhada pela blogosfera, inclusive a brasileira. Vou agora, comentar por aqui.

O primeiro ponto é a questão do contexto. Nos EUA, como no Brasil, o publish or perish é muito, muito forte. A quantidade de publicações é usada para avaliar a qualidade de um pesquisador, conjuntamente com sua capacidade de angariar fundo para sua instituição (não é muito diferente por aqui). No Brasil, no entanto, pelo menos nas Ciências Sociais Aplicadas I, vários periódicos abertos são avaliados e muito bem avaliados. Nos EUA, nem tanto. Ainda há muita força na questão das publicações fechadas e essas costumam ser melhor avaliadas que as outras. Esse ponto foi discutido pela Adri. Se por um lado, alguém tem que investir na questão da publicação e da circulação do conhecimento, por outro, a publicação precisa ser o mais pública o possível. É uma questão muito complicada.

Eu concordo com a danah, Adri e Su no que diz respeito ao acesso aberto na Internet. De uma certa forma, é possível conseguir na Rede uma circulação interessante (melhor que a da maior parte dos periódicos, por exemplo) e é uma forma mais barata de publicar. Sempre procuro publicar em revistas que deixem os artigos disponíveis na Rede. Claro que isso também é um problema: duas por três encontro algo meu disponibilizado sem autoria, em algum site de venda de trabalhos ou afins. Mas, apesar disso, acho que o acesso aberto é essencial para o fazer científico e que não faz o menor sentido o conhecimento ficar guardado ou inacessível.

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Legenda: "He didn't publish, so he perished."


Mas em segundo lugar, vem a questão levantada pela Su, de que é preciso usar essa discussão para reavaliar a questão do publish or perish. Por causa dessa "cobrança" de publicações, diversas práticas surgem na academia, levadas adiante por pesquisadores desesperados por publicar. (Já ouvi falar de gente que publicou 200 artigos em um ano. Duzentos. Ou seja, uma média de quase 17 artigos por mês.) Por causa dessa valorização, ao invés de avaliarmos a qualidade, prezamos a quantidade. O Qualis, instrumento de avaliação da CAPES, penso eu, veio neste sentido: valoriza-se mais quem publica em instrumentos mais bem avaliados. Claro que isso gera outro problema: Torna esses periódicos (e anais de congressos) extremamente fechados e difíceis de publicar, especialmente para quem está começando, e especialmente, na minha área.

Por um lado, eu acho que parte da solução seria começar a avaliar mais periódicos no Qualis e, inclusive, mais anais. E os itens de avaliação dos periódicos não podem ser focados no título de quem publica. A outra parte é avaliar por pareceristas cegos sempre, em todos os congressos e revistas e enviar os pareceres para os autores. Eu considero essa prática, que não é comum na minha área, essencial. É só através de um parecer que a gente consegue saber onde errou e como melhorar. Nos EUA, isso é comum. Na verdade é comum e os pareceres chegam a ser radicais e extremos. Mas eu acho que a qualidade do que é publicado lá também é superior à nossa. De qualquer modo, o parecer cego aumenta as chances de um bom trabalho, escrito por alguém que não é doutor, mas que faz uma pesquisa séria e consistente, venha a ser publicado. Além disso, o parecer dá ao autor outro olhar sobre sua pesquisa, e permite que as pessoas recebam recomendações de leitura, dicas e críticas construtivas. Depois, com mais revistas, há mais possibilidades de publicação e mesmo, de receber feedback sobre a pesquisa. Com acesso aberto, é mais fácil para quem está começando, perceber o "estado da arte" da pesquisa. Por fim, minha defesa mais polêmica: Eu também acho que a pesquisa realizada pela graduação deveria ser mais valorizada. E acho que as revistas deveriam ter um espaço para a Iniciação Científica. Eu creio firmemente que IC não é mão de obra barata, mas uma chance de que alguém comece a dar seus primeiros passos, escolha um problema e investigue-o. É a chance de auxiliar alguém a compreender como a pesquisa é interessante, fundamental e relevante. E morro de pena porque esses alunos, que produzem trabalhos muitas vezes, de vanguarda, não têm um espaço próprio para divulgar suas pesquisas nas publicações especializadas (mesmo que publiquem com o professor, há sim, discriminação das publicações, pelo fato do aluno ser um "graduando").

Essa é uma discussão polêmica, mas que merece abertura. Quanto mais discutirmos, melhores as chances de melhorar a área e a pesquisa no Brasil.