Ofcom Report em Sites de Redes Sociais


ofcom.jpg Finalmente arranjei algum tempinho para ler e discutir o report da Ofcom. Ele é baseado em um território geográfico (UK) e fechado em usuários deste território. Além disso, tem o grande mérito de estar baseado em estudos quantitativos e qualitativos, o que certamente provê um insight mais profundo para o estudo. Vou comentar alguns dados que achei interessantes e a relação que eu vejo entre eles e o Brasil neste post, bem como fazer algumas críticas. :-) Mais sobre a Ofcom pode ser encontrado aqui.

Tipos de Usuários dos Sites de Redes Sociais

Uma parte da pesquisa (qualitativa) identificou cinco tipos de usuários desses sites. No entanto, minha discussão seria que cada tipo de site é apropriado por usuários com intenções específicas em termos de capital social, que pode (ou não) ser usado para isso.

? Alpha Socialisers (Socializadores alfa) ? São determinados como uma minoria, e definidos como as pessoas que usam esses sites em breves e intensos períoso para flertar, conhecer novas pessoas e ser entretidos. Eu diria que essas pessoas são aquelas que buscam dois tipos de capital social: reputação e ampliação/complexificação da rede. Se estivéssemos falando do Gladwell, esses seriam os influenciadores. Esses indivíduos estão presentes nos dois momentos de adoção de uma tecnologia: o início e a maturidade, pois são eles que fazem a curva de adoção iniciar. Para a pesquisa, esses usuários são uma minoria (fazendo a conexão com os conectores do Barabási, é provável, pois são aqueles que investem bastante na rede social). Acho que os valores buscados por esses usuários estão presentes em ambos os tipos de laço social (fortes e fracos) e que, portanto, eles estão presentes em vários tipos de tecnologias sociais.

? Attention Seekers (Usuários que buscam atenção) ? São aqueles que buscam atenção dos outros, frequentemente modificando suas fotos e personalizando os perfis. Esses usuários, creio eu, são aqueles que buscam o capital de apoio social. Mais do que simplesmente trocar informações, são usuários que buscam um repositório de apoio social freqüente. Ao contrário do primeiro tipo, eu diria que no Brasil esses usuários são mais presentes em ferramentas que permitem maior interação, como os fotologs e os blogs. O Orkut, embora também permita a interação, é um site de rede social menos capaz de gerar esse tipo de apoio (proveniente dos laços fortes, obviamente) pois há um maior espalhamento da atenção entre os diversos perfis e uma maior dificuldade em acompanhar as atualizações (Feeds fazem muita diferença.) De acordo com a Ofcom, seria um tipo de usuário medianamente presente nos sistemas.

? Followers (Seguidores)? Pessoas que entram nos sites de redes sociais para continuar o contato com os amigos/conhecidos. Eu acho que esses são os late adopters de qualquer tecnologia e buscam valores como sociabilidade, reputação e complexificação das redes. Esses usuários são aqueles que percebem nos early adopters o valor da rede e que também desejam obtê-lo. Obviamente que são a maioria dos usuários e estão presentes em todo o tipo de site de rede social.

? Faithfuls (Fiéis) - Seriam as pessoas que usam os sites de rede social para reconectar com amigos do colégio, por exemplo. Concordo que este é um uso muito comum, voltado ao capital social de complexificação da rede. Mas discordo que essa seja uma categoria a parte. Para mim, esse tipo de comportamento está presente em todos os usuários, em maior ou menor grau (ao contrário da busca de atenção, por exemplo). No Brasil, é um comportamento típico do Orkut, mas não tão comum no Fotolog ou nos blogs. É um uso voltado para o resgate da rede social e o fortalecimento dos laços.

? Functionals (Funcionais) ? Seria uma minoria dos usuários que tende a ter um uso, digamos, reduzido dos sites de rede social, direcionando o uso para uma função específica. Também discordo dessa categoria, pois não encontrei (ainda, ao menos) algum usuário que pudesse ser classificado aqui. Acho que mesmo aqueles que usam pouco tendem, em sua adoção, a repetir o uso da maioria. Fico imaginando se o estudo está falando dos perfis fake para spam (aí sim, seria possível), mas tenho minhas dúvidas de que os donos desses perfis não façam outros usos da rede.

Os não-usuários de sites de redes sociais, de acordo com o report, também cairiam em algumas categorias específicas:

? Concerned about safety (Usuários preocupados com a segurança) ? Seriam aqueles que se preocupam em colocar seus dados na Internet, com medo de stalkers ou do uso que possa ser feito disso. É uma categoria bastante comum em váriso países (mas não tanto no Brasil, eu vejo a preocupação para com a privacidade aqui mais freqüente nos pais, por influência da mídia, do que nos usuários em si).

? Technically inexperienced (Usuários tecnicamente inexperientes) ?Aqueles que não usam porque não sabem usar. (O Jeremiah Spence tem um trabalho onde ele mostra o Orkut como uma das ferramentas que proporcionou integração digital, especialmente de classes mais baixas, no Brasil, porque gerou interesse desses jovens em compreender o uso do fenômeno.)

? Intellectual rejecters (Usuários que rejeitam o sistema por motivos intelectuais) ? Pessoas que não têm interesse em redes sociais e vêem esse tipo de site como uma perda de tempo. Eu acrescentaria nesta categoria também aqueles que saem do sistema pelos mesmos motivos.

Sobre os usos dos sites de rede social

O report sublinha alguns usos e aponta para outros. Vou comentar na seqüência:
#Users create well-developed profiles as the basis of their online presence - Eu diria que todo o perfil é uma base de presença online, mas por certo que esses perfis representam uma "tomada de espaço" e ter um perfil em algum site de rede social significa tornar presente um ator e suas conexões. Eu diria que, mais do que simplesmente estar presente, há uma necessidade bastante clara de mostrar a presença aos demais, ou seja, mais do que o uso que decorre da criação de um perfil, o próprio "estar ali" já é, por si, um valor socialmente reconhecido.

# Users share personal information with a wide range of ?friends? - Acho que também é um uso esperado. Se parte do valor é "mostrar" que se está ali, obviamente que o perfil inteiro é construído para dar uma determinada impressão ao visitante (pensando no Goffman). Tenho visto que os atores são cuidadosos na impressão que querem causar e na produção do perfil como um espaço de performance identitária.

# While communication with known contacts was the most popular social networking activity, 17 % of adults used their profile to communicate with people they do not know. This increases among younger adults. Novamente, outra parte do valor da rede é ampliar a rede social, conhecer mais pessoas e ampliar laços. Jovens com redes sociais ainda em formação costumam ter mais presente essa necessidade do que adultos.

# Only a few users highlighted negative aspects to social networking - Acho que também é verdadeiro para o Brasil.

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A tabela acima sumariza alguns dos principais pontos do relatório, como os tipos de usuário, a classe social, idade e etc.

Eu acho que o principal aqui é compreender que a apropriação de um site de rede social vai além do uso unicamente para "fazer amigos". De minha parte, eu diria que os sites de rede social possuem usos mais amplos e mais comuns entre as diversas populações de atores do que o report sinaliza. Eu arriscaria dizer que, com base nas minhas pesquisas e na literatura especializada que esse tipo de ferramenta é utilizada para 1)construir identidades específicas com busca de capital específico para cada uma delas (por exemplo, um mesmo ator pode procurar reputação em um blog e atenção em um fotolog). Além disso a construção de identidade também é voltada para a "mostração" e a construção das impressões que se deseja construir no Outro; 2) complexificar e ampliar a rede social, que é o uso mais óbvio, conhecer novas pessoas e reconectar-se com amigos/ conhecidos antigos, sem necessariamente ter que investir no laço social para manter a conexão; 3)construir tipos de capital social, que eu diria que é o principal valor no digital: os sites de rede social proporcionaram uma facilitação do acesso ao capital social, com menor custo e menor necessidade de investimento do que as relações offline (os benefícios, no entanto, são diferentes, é claro). Aqui entrariam todos os valores da rede: informação, busca de apoio social, reputação e etc.

Finalmente, eu acrescentaria aí a migração da interação entre os diversos sites de rede social. O uso, pelo menos aqui no Brasil, parece mostrar uma migração da interação. Por exemplo, as pessoas se conhecem no Orkut, trocam scraps, mas vão interagir mesmo no MSN. Essas trocas também podem revelar padrões de uso diferenciados que acho que podem revelar coisas mais interessantes ainda na adoção desses sistemas e na sociabilidade online.