Personalização em Sites de Redes Sociais e o Orkut


raquelrecuero@gmail.com_18fa917a.jpgA personalização de um perfil, blog, fotolog ou site pessoal é um importante fator de adoção de um sistema. Isso porque, como muitos discutem (vide Döring, Donath, entre outros) esses sistemas são apropriados como modos de expressão do self ou ainda, performances de identidade, ou mesmo como jogos de identidade (vide Herring & Martinson). Os blogs, por exemplo, foram bastante apropriados como formas de expressão pessoal, narrativa pessoal e fala de si (vide Sibilia, Carvalho e Lemos). Ainda que nem todos sejam "diários pessoais", muitos são expressões pessoais de alguém (como o meu, por exemplo) e mesmo blogs corporativos freqüentemente aparecem como conteúdos pessoalizados e assinador por alguém. Trata-se, assim, de uma forma de apropriar e individualizar um espaço como seu. Essa personalização é frequentemente observada em sites de redes sociais (vide Liu, por exemplo)

A personalização foi uma solicitação antiga (e comum entre usuários de vários países) do Orkut. Apesar disso, o sistema nunca (até agora) tinha incluído qualquer forma de personalizar o perfil, o que fazia com que as pessoas apropriassem esse perfil como fosse possível (nomes criativos, desenhos em ASCII, apelidos, fotos, avatares, comunidades como bótons e etc.). O Facebook, ao contrário, embora limitado, já tinha todos esses programas que estão no Orkut hoje. E essas aplicações sempre tiveram, no FB, um aspecto de personalização, no sentido de que muitas eram adicionadas aos perfis simplesmente para "mostrar quem se é" e não para a efetiva participação (como as comunidades do Orkut). Com o Open Social, formas de personalização novas começaram a surgir. Percebo muitos incluindo aplicações diferentes (aquelas que mostram humor, gostos e avatares parecem ser preferidas) com fins de personalização. A própria máscara de "torcida do Brasil" (ao contrário da minha expectativa), foi rapidamente adotada.

orkutbrasil.jpg Sites de redes sociais não têm tido muitas opções de personalização, quase sempre forçando formas de apropriação criativas dos usuários para conseguir se expressar. Com a possibilidade de usar as aplicações no Orkut, parece-me que foi renovado o interesse dos usuários em acrescentar coisas novas no seu perfil e modificá-lo, trazendo um pouco mais de tráfego para um sistema que, na minha opinião, começava a morrer em termos de visitas. Mas ainda penso que é preciso tratar com mais foco a questão da personalização. Embora muitos designers tenham medo de transformar os sistemas em um MySpace (onde a navegabilidade é difícil pela quantidade de informações diferentes em cada perfil), a expressão de si é uma das principais motivações para a adoção de sites de redes sociais. Neste sentido, incluir elementos que proporcionem aos usuários uma apropriação criativa e pessoal de seu perfil, no sentido de refletir "as últimas formas do self" (Döring), faz todo o sentido. Coisa que, ao que parece, o Orkut começa a incluir no sistema, e com isso, deve renovar ainda mais o interesse dos usuários nele.

Referências:
Carvalho, R. De onda em onda: a evolução dos ciberdiários e a simplificação das interfaces. In: BOCC.
Donath, J. (1999) Identity and Deception in the Virtual Community. In: Kollock, P. and Smith M. (eds). Communities in Cyberspace. London: Routledge
Döring, N. (2002) Personal Home Pages on the Web: A Review of Research. In: Journal of Computer Mediated Communication, v. 7, issue 3.
Herring, S. & Martinson, A. (2004). Assessing gender authenticity in computer-mediated language use: Evidence from an identity game. Journal of Language and Social Psychology, 23 (4), 424-446.
Lemos, A.(2002) A Arte da Vida. Diários Pessoais e Webcams na Internet. in Cultura da Rede. Revista Comunicação e Linguagem, Lisboa, 2002.
Liu, H. (2007). Social network profiles as taste performances. In: Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), article 13.
Sibilia, P. (2005) A vida como relato na era do fast-forward e do real time: algumas reflexões sobre o fenômeno dos blogs. In: Revista EmQuestão, vol. 11, n.1.