Scientific American, Tecnologia e Privacidade


cover_2008-09.jpgEssa última semana discuti com os alunos várias coisas relativas à tecnologia e à privacidade em sala de aula, principalmente a partir do 1984 e da Internet. Uma das grandes preocupações dos últimos anos relaciona-se com a privacidade em um mundo onde todos os rastros permanecem no ciberespaço, quer queiramos, quer não. Por pura coincidência, vi no Ebiquity que a edição deste mês da Scientific American toca, justamente neste ponto: o futuro da privacidade na era da tecnologia.

A revista fala em uma das matérias a respeito do problema das redes sociais como elementos que terminam com a privacidade através da vigilância. O caso do Orkut, que é bastante conhecido pelos brasileiros é emblemático neste sentido. Todos sabemos que parte da apropriação do sistema é construída na medida em que a rede social é visível. E esse é um dos valores da rede. Ao mesmo tempo, essa visibilidade gera a consciência da vigilância e mas não do comprometimento da privacidade, especialmente entre jovens e adolescentes. O grande problema, acredito eu, é que a maioria das pessoas não têm noção de que publicar as informações pode torná-las públicas em um nível tão abrangente. As informações são publicadas livremente, mas sem que se perceba o que, exatamente, significa essa "publicação".

Outro ponto é a falta de cuidado dos órgãos públicos a respeito desses dados. Hoje em dia é possível encontrar informações a respeito de quase qualquer pessoa no Google. Resultados de concursos públicos, por exemplo, acabam por divulgar informações bastante particulares no intuito da transparência, tais como CPF, data de nascimento e nome completo das pessoas. Informações essas que podem facilmente ser utilizadas para propósitos negativos sem o conhecimento dos envolvidos. Além disso, essas informações podem ser facilmente complementadas através da observação sistemática de mensagens deixadas no Orkut, em blogs ou fotologs. Essa possibilidade ampla de vigilância do indivíduo na Rede é algo com o que nossa sociedade jamais se deparou antes e pouco se discute hoje.

Existing law should be extended to allow some privacy protection for things that people say and do in what would have previously been considered the public domain.
(Citação acima vem de uma das matérias da Sciam.)

Com o aumento do uso das tecnologias e com sua onipresença, mais e mais rastros serão deixados no ciberespaço. E por mais que não queiramos, menos poder teremos sobre essas questões. Embora parte da segurança resida na quantidade de informações disponíveis sobre muita gente, ela também permite que a vigilância individual seja mais freqüente e que mais e mais pessoas comuns sejam vítimas do foco do vigia. Para pensar...

P.S.: A Fernanda Bruno tem discutido essas questões de vigilância e subjetividade no blog há algum tempo e tem vários artigos sobre isso, especialmente no que diz respeito à vigilância no Orkut. Leiam lá.