Sites de Redes Sociais como Planos de Sociabilidade


Um idéia que vem martelando na minha cabeça e que precisa ainda ser inserida de uma forma mais coesa no meu trabalho é a visão dos sites de redes sociais como planos de sociabilidade. Acho que é muito importante começar a analisar as migrações das conversações entre os diversos sites e, nesse estudo, tenho percebido que os sites funcionam de forma complementar, organizando espaços sociais diferentes para os atores sociais.

Como assim?
A idéia é simples. Os sites de redes sociais seriam apropriados como planos específicos para tipos de sociabilidade, como por exemplo, para conversações com determinados tipos de públicos e determinados objetivos - e, consequentemente, determinados tipos de capital social. Ou seja, na minha rede social, os sites atuam como organizadores do processo de conversação, permitindo que eu "fale" com determinados atores em cada um desses espaços e organize minha própria rede ali.

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A figura mostra de forma esquemática a idéia. O nó vermelho é o ego da rede estudada. Os planos coloridos representam os sites de redes sociais.

Assim, poderíamos colocar, por exemplo, seguindo o meu caso o Twitter, como um site mais "broadcast" em termos de conversação. Como é difícil seguir o papo, eu não estou o tempo todo lá e o sistema dificulta a coerência da conversação, ele é mais usado para informar e para conversações rápidas. Em compensação, é muito utilizado para divulgar informações de forma rápida É um site, portanto, cujo maior capital social, na minha rede, é cognitivo. Também tem o ponto importante de seguir determinadas pessoas e saber o que dizem, com quem falam e verificar quantos seguidores temos e quantas mensagens recebemos. Também é importante o capital social relacional, mas em menor escala.

O Facebook por outro lado, é um site onde eu só vou para ver o que meus amigos estrangeiros estão fazendo e se me enviam algum recado. É um site puramente relacional, onde o público com quem eu falo não é o mesmo do Twitter (embora, em alguns casos, seja) e que me oferece outros valores que não são os mesmos do Twitter. Ou seja, é um site complementar à minha rede do Twitter. Apesar disso, não é um site propício para todos os tipos de conversação, pois também é difícil acompanhar os assuntos (exceto se as pessoas estão nos chats).

O Orkut, ainda na mesma análise, é também um site relacional. Serve para que eu saiba o que mais amigos fazem, por onde andam e para mandar um recado ou um buddy poke de vez em quando. Eu não mantenho muitas conversações ali, a tendência é que minhas conversações mais síncronas migrem para outros sistemas - como o Plurk ou o MSN. Também no Orkut, eu tenho capital social relacional, mas voltado para a minha rede de amigos brasileiros. A importância do Orkut é basicamente estar lá, para ser encontrado pelos demais. Ele também auxilia a organizar minha rede, mas é um espaço onde eu converso pouco.

Esses três sites de redes sociais abarcariam mais conversações assíncronas e turnos mais diruptivos e com menor coerência. Teriam valores mais relacionados aos laços fracos, como capital relacional e cognitivo e relativos a redes diferentes. Já outros sites, como o Plurk, que eu uso para conversar com meus amigos, possui mais formas de capital social (institucional - marcar um evento; relacional - conversar com os amigos; congnitivo - saber quando saiu o novo episódio de TBBT; etc. etc.) e conversações mais síncronas. Mas eu uso o sistema de forma mais ativa, mais relacionada aos laços fortes. A mesma coisa nos messengers como o MSN e o Gtalk.

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E o que eu quero dizer com isso?
Parece-me que os sites de redes sociais funcionam como camadas, por vezes conectando os mesmos atores de forma diferente, por vezes conectando atores diferentes e redes diferentes. Assim, quanto mais contatos em sites diferentes eu tenho com um mesmo ator, maior a multiplexidade do meu laço e maior a chance de construir com esse ator um laço forte. Quanto menor o contato com o ator em sites diferentes, maiores as chances que ele seja um laço fraco, pois menor a multiplexidade. Além disso, os sites são utilizados de forma complementar, para diferentes objetivos e diferentes valores sociais.

Entender como os sites de redes sociais são apropriados pelos atores (e eu não estou dizendo aqui que todos apropriam do mesmo modo), relacionar os valores percebidos pelas redes e conectar esses diferentes valores em uma perspectiva "multiplanos" pode ser um pequeno passo para auxiliar a entender, também, a complexidade das redes sociais expressas online. Daí a minha proposta de compreendermos esses sites como planos de sociabilidade, cada um complexificando e valorizando as conexões da rede social que passam por ali. Assim, a perspectiva de que cada site de rede social atue como um plano, complexificando a rede, permitindo novas formas de conversação e apontando para valores mais complexos pode ajudar a estudar as redes sociais de forma mais completa.

Referências:
Essa idéia que comentei aqui está sendo desenvolvida como paper. Mas as referências que citei, em termos de sites de redes sociais: o artigo da danah boyd e da Nicole Ellison com o meu adendo da apropriação (sites de redes sociais são sites apropriados como espaços de expressão das redes sociais); tipos de capital social citados construídos por Bertolini e Bravo (artigo de 2001, não está mais online); apontamentos sobre as redes e a conversação de artigos meus.