Sobre a Universalidade do Facebook


facebook-logo.jpgUma das coisas que me deixa bastante curiosa é a adoção do Facebook no mundo. Ontem a Comscore divulgou dados da Internet no mundo (1 bilhão de usuários residenciais - excluindo lan houses, celular, escola e trabalho, o que certamente aumentaria muito esse número), cerca de 21,2 milhões no Brasil (de novo, não contando quem acessa de lan house, escola e trabalho). Mas o que eu achei mais intrigante e que é o tema deste post é a universalidade do Facebook. É o site de rede social mais acessado do mundo (221 milhões de visitantes únicos, 22% da audiência da Internet, 7o site mais acessado do mundo), mas deixando para trás o MySpace e crescendo absurdamente em 2008.

Um site de rede social universal?

O que me intriga, conseqüência direta do crescimento do Facebook, é a sua universalidade. O site tem sido adotado massivamente por diversos países e culturas diferentes, o que eu achei que não seria possível. Sim, porque as diferenças culturais tem um papel importante na apropriação das ferramentas e na própria usabilidade. A hipótese para isso é que o Facebook pegou inicialmente os países de língua inglesa (como os Estados Unidos) gerando uma forte cultura de uso e de novas ferramentas (lembrando que é possível desenvolver para o FB há muito tempo, enquanto o Orkut apenas permitiu isso há pouco mais de um ano), que depois vai sendo espalhada para outras países falantes da mesma língua (como a Índia, onde o inglês é uma língua oficial e o FB tem crescido muito).

No entanto, recentemente, o FB começou a crescer também em países de língua não inglesa, como a Itália, onde cresceu 906% nos últimos 6 meses de 2008, batendo o então mais popular site de rede social, o Badoo. O Fabio Giglietto, pesquisador de redes sociais da Universidade "Carlo Bo" de Urbino fez uma análise desse crescimento e da adoção desses sites, falando em primeira e segunda geração, levantando a discussão de que eles seriam adotados por públicos diferentes.

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Gráfico retirado da matéria do O'Reily Media. Mostra o crescimento do Facebook por região nos últimos três meses de 2008.



E o que isso tem a ver com o Brasil?

O FB ainda é pouquíssimo usado no Brasil (mal chega aos 500 mil usuários), mas também tem crescido de forma consistente na América do Sul, em especial, no Chile (mas também na Venezuela, Argentina e Uruguai). Essa adoção pode estar acontecendo devido ao que o Fabio chama de "segunda geração", ou seja, o que a danah também observou na troca Myspace x Facebook nos EUA: as divisões da sociedade vão aparecendo nos sites de redes sociais através da diferenciação, principalmente, do uso mais "básico" das ferramentas anteriores. E isso poderia influenciar sim a questão da supremacia do Orkut no Brasil.

Como comentei em outros posts, não temos mais um único Orkut no País. Há uma adoção por diversas classes e grupos sociais, o que é a maior força do sistema (o chamado "efeito de rede" - todos estão lá porque todos estão lá). Só que, de uma certa forma, essa é também a maior fraqueza - começa a surgir, de forma cada vez maior, uma necessidade de diferenciação. Essa necessidade vem aparecendo sob a forma de linguagem, fotos, vídeos, modos de apropriar. E, ao mesmo tempo, por um certo "cansaço" dos early users, que passam a usar menos o sistema. Com isso, abre-se uma brecha para que outros sites sejam adotados. No Brasil, parece-me que isso está acontecendo sob a forma de uma migração do uso do Orkut desses influenciadores mais digitalmente letrados para o Twitter e não para o FB (e o Twitter começa a apresentar elementos de site de rede social, embora ainda não de forma abrangente).

facebook-logobrasil.jpgO que impede o Facebook de crescer aqui?

Na minha opinião, é o fato de que o FB não apresenta ainda, para o internauta brasileiro, nenhum valor diferencial em relação ao Orkut. O valor diferencial que tem feito o Facebook crescer, por exemplo, na Índia, foi inicialmente a privacidade. Só que no Brasil, o valor do Orkut está na sua não-privacidade, no fato de podermos olhar o perfil do outro com quem não se está conectado diretamente. Mas a construção de valores é dependente da apropriação e a migração de uma pequena massa de usuários que gerasse algum novo valor no FB poderia, creio eu, gerar um novo valor, provocando uma migração de outros usuários. Também fico pensando se a massiça adoção do FB ao redor do mundo não acabe influenciando a migração aqui também. O Brasil tem muitos expatriados ao redor do mundo, que poderiam influenciar o uso da ferramenta por aqui. Mas penso que tudo depende da capacidade de inovação do FB em relação ao Orkut e de sua capacidade em inserir, em seu sistema, elementos de sociabilidade (principal uso das ferramentas sociais no Brasil) e, especificamente, de conversação que sejam valorizados por aqui.