Broadcast do Eu: Twitter e as Redes Sociais


Entre alguns dos primeiros dados interessantes, que comentei na Campus Party, da minha pesquisa e da Gabriela Zago sobre o uso do Twitter no Brasil foi a compreensão de que a ferramenta, pelo menos aqui, parece ter um forte de caráter informacional. Não significa que as pessoas não usem o Twitter para conversar, ou para dizer o que estão fazendo (trabalhos que apontam isso estão, por exemplo, com Honeycutt & Herring, 2009 - uso conversacional; Java et al., 2007; Mischaud, 2007 - uso informacional e conversacional). Usam para isso também. Mas o caráter de receber informações novas é extremamente valorizado pelos usuários e aparece também na amostra de tweets que recolhemos.

Twitter como ferramenta de informação

O que tem aparecido, por enquanto, é que o Twitter é uma ferramenta onde a informação é super valorizada. A informação pode dar seguidores, valorizar sua conta, construir reputação e outros valores de capital social. Durante os dias em que estive afundada na Public Timeline da ferramenta, pude ver uma quantidade enorme de pessoas que já se deram conta disso e usam suas contas no Twitter para fazer propaganda de seus blogs, seus flickrs e por aí afora. Na pesquisa, observamos que a expressiva maioria dos respondentes dizia clicar nos links que recebe no Twitter. Isso mostra uma grande credibilidade das informações publicadas na ferramenta. Mais do que isso, muitos usuários parecem engajar-se na busca por informações relevantes para seus seguidores.

twitterrede2.jpgBroadcast do "eu"

Mas mesmo que as pessoas publiquem informações que julguem relevantes, que publiquem o que estão fazendo ou que conversem na public timeline, elas estão publicando suas impressões e julgamentos sobre o mundo. Elas estão ativamente criando impressões nos outros a respeito de si mesmas (citando o Goffman) e controlando essas impressões pelas informações que são publicadas. Estão cuidando de suas próprias reputações.

Eu falei na palestra que isso implica um pouco no fato de que o Twitter está sendo constituído como ferramenta de broadcast do eu. Por que broadcast? Porque o Twitter é a coisa mais próxima de uma ferramenta massiva que temos na Internet. Eu decido seguir alguém, mas a partir do momento em que sigo este alguém, passo a receber todas as suas mensagens, que não sei quais serão. Se fizéssemos uma analogia com a TV, seria como escolher um canal e passar a receber tudo o que ele publicar, seja propaganda, seja informação, seja gronfismo. E temos "canais" no Twitter com uma quantidade expressiva de seguidores. Com o crescimento da ferramenta, tem gente com 30, 50, 60, 200 mil seguidores. Isso é mais audiência do que muitos rádios e canais de TV no Brasil. O Twitter, assim, alcança de forma indiscriminada, em muitos casos, uma larga audiência (daí a noção de que ter muitos seguidores é um valor).

twitterrede3.jpgEfeitos sobre a estrutura das redes sociais

Nesse sentido, o Twitter é diferente dos blogs, fotologs, flickrs e etc., onde eu preciso acessar a informação que é publicada de forma ativa e escolher se desejo ou não dar atenção à ela. É mais semelhante a um canal de chat, onde há uma imensa quantidade de ruídos e informações circulando e eu preciso, em meio àquele mar, observar as conversações que me interessam (daí o valor do chamado PVT - canal privado- nessas ferramentas). Se eu resolver acessar o meu Twitter por celular, por exemplo, não tenho como escolher que informações vou receber. Receberei todas aquelas que meus seguidos publicaram, sejam elas úteis ou não. No entanto, como o uso mais valorizado do Twitter parece ser o informacional, é nessa característica que reside a beleza da coisa: Muitos usuários realmente valorizam esse ambiente caótico porque as informações que estão chegando são relevantes. Ao contrário de um chat, onde há muito lixo, o ruído no Twitter ainda é esparso.

Isso quer dizer que, enquanto a apropriação for majoritariamente informacional, os usuários tenderão a seguir muita gente (com algum ponto de saturação por conta da economia de atenção), mas a falar com poucos (como Huberman, Romero & Wu, 2009 apontaram). Mas se um dia a apropriação se tornar majoritariamente conversacional, por exemplo, haverá um decréscimo da conectividade (redes com menor número de seguidores e seguidos), um aumento das trocas entre poucos usuários (maior número de "@s" trocadas e maior número de turnos nas conversas, e um estabelecimento de redes mais clusterizadas e desconectadas entre si.

Eu gostaria de poder discutir mais esses dados mas, por enquanto, não posso ir muito além disso. Há muitas coisas legais que escrevi aqui e que estão efetivamente desenvolvidas em alguns artigos que estão sendo avaliados e, possivelmente, com um pouco de sorte, sejam publicados em breve e eu possa comentar aqui. :-)