Redes Sociais como Estruturas de Poder


Redes sociais, como sabemos, são modos de representação de grupos de atores sociais. Enquanto modos de representação de estruturas sociais, as redes também podem expressar estruturas de poder implícitas nesses agrupamentos. Do meu ponto de vista, todo o grupo social possui algum tipo de hierarquia e algum tipo de estrutura de poder constituída de forma implícita ou explícita. Uma relação de poder, para Foucault, é uma relação de dominação de indivíduos ou instituições sobre outros indivíduos e outras instituições. Esse poder é legitimado por um determinado grupo social de formas diferentes. Poderíamos imaginar, por exemplo, que em uma rede social no Twitter, as pessoas com maior número de seguidores teriam mais poder na rede, uma vez que poderiam influenciar um maior número de indivíduos. Essa conexão seria, portanto, causa e conseqüência da legitimação de uma estrutura de poder ali expressa.

Para explicar rapidamente essa construção, vou emprestar do Augusto de Franco (da Escola de Redes) a indicação do texto sobre as estruturas de rede do Paul Baran:

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De acordo com Baran, as três estruturas básicas das redes seriam as que aparecem acima: centralizadas, descentralizadas e distribuídas. Se pensarmos que cada conexão representa uma relação de poder, temos que esses três modelos poderiam representar redes onde há maior e menor concentração de poder. A rede distribuída, por definição, é a rede onde há maior igualdade na estrutura de poder, onde os indivíduos não estão hierarquizados. Já a rede centralizada e descentralizada representam, necessariamente, redes hierarquizadas e com estruturas de poder bem definidas e concentradas em determinados atores. Um dos méritos da perspectiva do Barabási, assim, na minha opinião, é chamar a atenção para a presença da hierarquia - e por conseguinte, das estruturas de poder. Barabási demonstrou que a estrutura da rede "sem escala" (ou seja, de redes mais centralizadas) seria a mais comum nos fenômenos. Ou seja, é muito difícil que tenhamos redes distribuídas quando focamos sistemas sociais. A tendência é que sempre existam negociações de poder, levando a uma tendência de clusterização e centralização da rede. Embora a Internet contribua para a distribuição maior do poder entre um maior número de nós, mesmo essas redes sociais são hierarquizadas. Redes sociais na Internet, assim, tendem a ser, portanto, hierarquizadas e descentralizadas, mas não distribuídas.

Se compreendermos as redes sociais na Internet a partir de seus links como estruturas de poder (escrevi brevemente sobre isso com o Alex Primo e o Ricardo Araújo), observaremos que essas estruturas são negociadas de formas variadas e que essa negociação é influenciada, de um modo especial, por uma disputa pelo capital social construído nesses espaços. Assim, elementos como reputação, autoridade e popularidade podem ser centrais para a compreensão dessas redes como expressões das estruturas de poder. Mais do que isso, essas estruturas podem também apresentar pistas importantes para a compreensão das cascatas na Internet e outros fenômenos informacionais que pretendo focar em breve.

O objetivo deste post é chamar a atenção para uma discussão que muitas vezes tomamos como certa: aquela onde as redes sociais na Internet são democráticas por princípio e que democratizam nossas relações. Não é bem assim. Redes sociais na Internet também são hierárquicas e dependentes de relações de influência e poder. Também há dominação. Também há contrato social. Quando escolhemos quem seguir no Twitter ou aceitamos pedidos de amizade no Orkut, pesamos cuidadosamente as vantagens e desvantagens dessa relação, decidindo conceder ou não poder a outrem. Muitas dessas redes podem ser extremamente centralizadas, onde um único indivíduo é o conector e o filtro das informações para o todo. Escrevi um paper discutindo essas questões com maior profundidade e, em breve, disponibilizarei aqui.