Redes Sociais, Dunbar's Number e Redes Emergentes: o que sabemos?


Ontem li um artigo no The Economist que falava de uma pesquisa do Cameron Marlow sobre o Dunbar's Number em sites de redes sociais. Em que pesem as críticas que são feitas à teoria, é apenas lógico pressupor que há um limite no número de "amigos" que uma pessoa consegue manter durante a sua vida. Isso porque uma "amizade" implica em investimentos: tempo, interação, aprofundamento dos laços e etc. Quanto mais amigos, mas se precisa investir em aspectos sociais no dia a dia e há um limite para a quantidade de investimentos que os indivíduos conseguem fazer. Ou seja, ter amigos é uma questão muito mais complexa do que simplesmente adicionar pessoas no seu perfil do Orkut.

Isso leva a uma primeira reflexão. A Internet permitiu que ampliássemos nossos contatos sociais a uma dimensão nunca imaginada. As ferramentas de comunicação mediada pelo computador permitiram que amizades fossem criadas e mantidas à distância, que pudéssemos interagir e estar visíveis (condição para a interação e a conversação) sem os tradicionais impedimentos de espaço e tempo. Com isso, acredito que estejamos diante de uma complexificação desses espaços sociais, de um aumento das conexões entre as pessoas, com influências óbvias na difusão de informações e no capital social criado. Essa complexificação parece ter algumas similaridades dentre os vários sites de redes sociais que tenho estudado.

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Rede inteira (interações) de fotolog estudado. A rede representa todos os comentaristas de ego. (Recuero, 2006)


O argumento básico da matéria sobre a pesquisa do Marlow é que quando se examina a rede de pessoas com quem um ator efeitvamente interage, há uma redução expressiva com relação à quantidade de "conexões" que este ator tem. E que essa limitação seria biológica (eu acho que é social, mas enfim). Na verdade, diversos trabalhos já observaram isso em inúmeros outros sites de redes sociais. O Bernardo Huberman, junto com Romero e Wu apontaram essa diferença no artigo sobre as "redes sociais que importam no Twitter". Eu já comentei isso quando falei de redes emergentes e redes de filiação. Mas o que eu acho importante sobre essas "redes emergentes" são suas características.

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Cluster (atores com de comentários recíprocos). (Recuero, 2006)

  • As conexões emergentes, ou seja, derivadas da conversação nos sites de redes sociais parecem muito mais estáveis, com a maior parte das conversações quase sempre acontecendo entre um pequeno número de atores sociais;
  • As conexões emergentes tendem a ter uma certa proximidade territorial e de interesse: Parece que há uma tendência a concentrar um maior número de interações entre os atores que estão localizados territorialmente próximos, o que indicaria uma forte influência da rede offline na rede online;
  • As conexões emergentes também acumulam muito mais intimidade, indicações de suporte social, apoio, encontros offline e multiplexidade em seu conteúdo que as demais. Isso poderia sugerir que é nessas redes que se concentram os tipo de capital social mais fortes;
  • Em compensação, a rede de filiação é muito mais ampla, muito maior e mais espalhada espacialmente. Isso poderia ajudar a explicar porque a difusão de informações se dá de forma diferente na rede de conversação e na rede de conexões de um determinado ator social.
Tudo isso parece mostrar que a Internet funciona como plataforma social no sentido de clusterizar grupos que já existem e de aproximar grupos offline, e menos como uma plataforma de construção de novas amizades. As redes sociais, assim, expressam menos agrupamentos sociais e mais agrupamentos de interesse e conexões. Há mais capital social proveniente de laços fracos do que fortes. Mas se observarmos, a partir das redes emergentes com base nas conversações, poderemos observar os grupos de "amigos" com base nesses pequenos clusters de conversações.