Espalhamento de Informações na Rede II: Uma e várias redes


Uma das formas de examinar esses processos é via Twitter. Uma das questões que eu e a Gabi Zago colocamos na pesquisa a respeito do Twitter foi se as pessoas repassavam informações que viam lá e por que. De forma muito interessante, descobrimos o seguinte:

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  • 88% das pessoas que responderam a pesquisa afirmaram que repassam informações para sua rede social.
  • As informações obtidas via Twitter são tidas como bastante relevantes pela maioria dos respondentes.
  • Parece haver uma correlação entre o uso informacional do Twitter e o ato de retwittar mensagens.
  • A maior parte dos respondentes reconhece que sua rede social no Twitter é diferente de sua rede social em outras ferramentas. Isso também parece estar relacionado com a decisão do que vai ser passado adiante e em qual ferramenta.
  • O uso do Twitter tem uma forte relação com a percepção do ator social como um filtro de informações e as decisões de repassar mensagens podem ser baseadas também nessas percepções.


Ontem, apenas para refletir um pouco melhor sobre essas questões, perguntei para a minha rede de seguidores no Twitter o que os fazia retwittar uma mensagem. Recebi mais de 57 respostas, das quais 49 (86%) faziam menção direta ao valor informativo da mensagem e 47 (82%) relacionavam esse valor com o conhecimento de sua rede social. Palavras como relevância para sua rede social, identificação para com a mensagem, valor para a rede, informação e seguidores foram bastante citadas. Novamente, alguns pequenos indícios de uma possível correlação entre os retweets e o conhecimento da rede social parecem aparecer, bem como a noção de reputação a partir daquilo que é dividido com a rede.

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Com isso, parece que o Twitter torna-se uma ferramenta de informação bastante qualificada. Os atores sociais parecem ter noção da relevância e dos valores primários e secundários daquilo que é repassado à rede e o repassam essas informações na expectativa de obter determinados valores. Além disso, a noção de que suas redes sociais são diferentes também ajuda a perceber melhor essas motivações. Ora, se as redes são diferentes, os atores podem optar por difundir de forma diferente as diferentes informações. Isso vai ao encontro daquilo que o Jenkins defende como "capacidade de espalhamento" de uma determinada mensagem, como falei no último post.

Uma e muitas redes sociais e o espalhamento de informações

Mas isso também reforça a noção de que as motivações estão fortemente associadas ao capital social percebido pelos atores sociais. A decisão de passar adiante ou não uma mensagem de forma consciente, assim, parece diretamente relacionada com a percepção dos valores que serão gerados na rede. Assim, ferramentas diferentes poderiam ter mecanismos de espalhamento diferentes, construídos a partir da apropriação delas pelos atores sociais. Ou seja, os meios pelos quais as informações são espalhadas seriam diferentes em blogs, fotologs, Orkut e mesmo, no Twitter, dependendo do modo através do qual são criados os sentidos de cada ferramenta para as redes que estão nela.

Essa percepção poderia levar-nos a discutir que cada ferramenta tem um potencial diferente para o espalhamento de informações. Enquanto no Twitter, pelo caráter informacional de sua apropriação, as informações tendem a ser mais valorizadas pela sua relevância e novidade, no Orkut, pela sua apropriação mais relacional, as informações são mais valorizadas pelo seu potencial conversacional. Essas duas motivações são mais facilmente observadas em uma análise do Twitter x Plurk, por exemplo. Duas ferramentas semelhantes, mas apropriadas de formas completamente diferentes pela mesma rede social (em breve, posto algo sobre essa pesquisa).

Para saber mais:

ADAR, E. & ADAMIC, L. Tracking Information Epidemics in Blogspace. Web Intelligence 2005, (2005)
GRUHL, D.; GUHA, R., Liben-Nowell, D. e TOMKINS, A. Information Diffusion Through Blogspace. Proceedings of the 13th International World Wide Web Conference (WWW’04), May 2004, pp. 491–501.
RECUERO, R. Information Flows and Social Capital in Weblogs: A Case Study in the Brazilian Blogosphere. In: ACM Conference on Hypertext and Hypermedia, 2008, Pittsburg. Proceedings of Hypertext 2008.[versão rascunho]
RECUERO, R. O Digital Trash como Mainstream: Considerações sobre a difusão de informações em redes sociais na Internet. In: Vinícius Andrade Pereira. (Org.). Cultura Digital Trash: Linguagens, Comportamentos e Desafios. Rio de Janeiro: E-papers, 2007.