Redes Sociais e Reciprocidade: Quem são seus "amigos" online?


twitterraquel.jpgUm dos conceitos que tem sido mais discutido por estudiosos e pesquisadores das ciências sociais e humanas que focam o ciberespaço é o conceito de amizade. De um modo geral, o pessoal que trabalha com redes sociais costuma focar como uma relação de amizade como sempre marcado pela reciprocidade (vide, por exemplo Ellison, Steinfield & Lampe, 2007). Assim, um "amigo" seria alguém com quem temos uma relação recíproca. (Não vou chamar de simétrica ou assimétrica porque é um conceito mais complexo em termos de redes sociais, conectado também ao valor atribuído às conexões do grafo.) Assim, o Orkut seria um site de rede social onde é possível ter "amigos", já que as conexões precisam ser recíprocas para existir. Já o Twitter é um espaço onde as conexões não precisam ser recíprocas e, portanto, não necessariamente um espaço de "amigos". Mas será que é só isso?

Na verdade, inferir um conceito tão complexo como amizade (que eu focaria como a existência de um laço forte entre dois atores sociais, que dividem intimidade) a partir das interações na Rede é um processo difícil. Assim, o que a maior parte dos pesquisadores faz é simplificar o conceito de forma a possibilitar a sua aplicação para esses espaços sociais. Uma das formas que eu usei para tentar inferir um laço forte entre dois atores foi quali-quantitativa. Eu avaliei não apenas a reciprocidade e quantidade de trocas conversacionais que existiam entre dois determinados nós na rede, mas também o conteúdo dessas trocas (ou seja, o que as pessoas diziam e as referências que eram feitas aos espaços offline), focando o capital social contruído. Além disso, considerei também as interconexões entre os atores. Quando um ator A conversava com B e com C e com D, que eram partícipes da mesma rede, há uma grande chance que B, C e D também se conheçam. Mas de um modo geral, acho que ainda é um método bem falho.

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Nesse grafo acima, vemos a intensidade das conexões demarcadas em um cluster de uma rede a partir da minha proposta discutida acima. Acho que neste trabalho, há uma proximidade com o grupo "offline" de amigos bastante grande, embora as interações online não tenham refletido de forma tão clara a proximidade dos atores no espaço offline.

Assim, embora a reciprocidade da conexão seja um indicativo interessante da existência de capital social capaz de indicar um laço forte, não é uma garantia deste. As pessoas tornam conexões recíprocas pelos mais variados motivos e nem sempre essas conexões refletem sua proximidade. Mas há mais um item. Uma das qualidades de um laço forte é manter relações variadas, chamadas aí de multiplexas. Assim, talvez um melhor indicativo seja a quantidade de conexões existentes entre dois dados atores nos vários sites de redes sociais. Ou seja, pessoas que são mais íntimas estão presentes em vários espaços de conexão e cada ator tenderá a usar um desses espaços para tratar com elas. Também me parece que cada ator ou grupo social tende a "eleger" um espaço específico, mais restrito, para sua rede social mais próxima e vários outros para suas demais redes sociais. Vale a discussão. :-)