Sobre o "fenômeno" dos Sites de Redes Sociais e a pesquisa


sns.jpgO fato dos sites de redes sociais estarem crescendo, como os anúncios dos sites especializados não param de mostrar não é exatamente uma coisa surpreendente. Afinal, o Howard Rheingold já tinha mostrado, há quase 10 anos, que a Internet estava complexificando o nosso "espaço social". Ou seja, as pessoas estavam utilizando o ciberespaço também como um lugar para conhecer pessoas, aumentar sua rede social, encontrar suporte e apoio social. Vimos isso repetidas vezes no Brasil: primeiro com os chats, que rapidamente tornam-se populares (lembro especialmente do IRC, um dos meus primeiros temas de pesquisa); depois com os mensageiros como o ICQ e o Live Messenger; depois ainda com os blogs e fotologs; finalmente com sites que mostravam as redes sociais, dos quais o Orkut aqui foi o maior expoente.

Mais interessante é o fato de que esses sites parecem ser adotados de forma cada vez mais universal. Fenômenos semelhantes àqueles que observamos no Brasil foram observados sistematicamente por outras populações e outras culturas. Participei de vários painéis com vários pesquisadores de outras partes do mundo e chegamos sempre às mesmas conclusões. Não apenas essas ferramentas são adotadas por culturas e países essencialmente diferentes (como a Polônia, a China, os Estados Unidos, a Itália, a Austrália, o México, e mesmo, o Irã), mas os padrões de utilização tem parecido os mesmos quando comparamos os trabalhos dos vários pesquisadores. Padrões de contrução de identidade; de construção de laços sociais e de capital social são muito parecidos nesses grupos. Do mesmo modo, quando olhamos para a rede social que é construída nessas ferramentas, também observamos elementos semelhantes, como os processos de clusterização, sua importante relação com o mundo offline (como a danah boyd já apontou várias vezes), sua influência nas relações com o mundo offline (vide o estudo sobre Netville do grupo Barry Wellman). Claro, isso não significa que não existam diferenças culturais. Existem e penso que um bom caminho para entendê-las é acompanhar o blog Futures of Learning com o estudo sobre algumas culturas e sua relação com a tecnologia. Mas as diferenças são muito mais pontuais do que essenciais no processo de socialização online.

A adoção dos sites de redes sociais como são utilizados no mundo hoje trouxe duas novidades para a pesquisa:
  • A questão da persistência dos rastros: Pela primeira vez os pesquisadores estão podendo estudar esses processos sociais a partir dos rastros deixados na Rede. E assim, é possível observar também o surgimento de novos processos e novas formas de construir conexões sociais.
  • Com isso, uma oportunidade de, através das próprias interconexões perceber como esses processos acontecem em culturas diferentes, indivíduos diferentes e grupos sociais diferentes. Essa é uma das maiores novidades na área: além da obtenção de dados, é possível obtê-los em larga quantidade e compará-los.
Por conta desses elementos, os pesquisadores estão cada vez mais interessados nesse tipo de ferramenta. Mas o interesse não está (ou não deveria estar) na sua novidade, porque o processo de utilização parece ser apenas natural. O interesse está, fundamentalmente, na possibilidade de observar os fenômenos sociais de forma mais ampla e com maior número de dados. O fenômeno da pesquisa a respeito do assunto, assim, deve-se menos à novidade dessas ferramentas e mais à possibilidade de aprender mais sobre nós mesmos através delas. O interesse está menos na ferramenta e mais no uso dela, e seu impacto nos processos sociais. Por isso que eu defendo que todo o site cujo uso é social é, em última análise, um site onde podemos estudar as redes sociais e assim, um site de rede social. Logo, os sites de redes sociais estão em todos os lugares e existem desde o início da Internet.