Mídia social além do Hype


rede2.jpgHoje li dois ótimos artigos. O primeiro, do Scott Berkun, "Calling bullshit on social media" faz uma violenta crítica ao hype da chamada "mídia social", ou ainda, o uso das redes sociais na Internet como formas de mídia. A resposta, di Joshua-Michéle Ross, no O'Reilly Radar, "In Defense of Social Media" desconstrói alguns dos argumentos de Berkun e apresenta outros. Há uma discussão interessante aqui, que pensei em interferir escrevendo meus "dois centavos".

Mídia social é hype?

É claro que é. Como tudo o que é novo e que não compreendemos integralmente, é popular. Mas entendendo mídia social como essa articulação de difusão de informação nas redes sociais online, há uma diferença fundamental. Embora o Berkun afirme que redes sociais sempre existiram, a novidade é a conectividade. Graças à rede, as pessoas estão mais ubiquamente e permanentemente conectadas. Recebem mensagens o tempo todo, articulando suas redes sociais. Esse potencial de difusão de informação é novo, é decorrente dos artefatos técnicos e proporciona uma articulação social nova. Isso sim proporciona novas formas de interação (para mais sobre isso, leiam o Alex Primo). E mais do que novas formas de interação, temos novas formas de conversação, diálogos assíncronos, migrantes. A tecnologia potencializa a conexão das redes sociais, evidenciando, assim, todo um poder de articulação que ainda nos é desconhecido. Isso tudo porque não podemos esquecer do básico: Essas redes sociais não são desconectadas do mundo offline. Portanto, as ações decorrentes da difusão de informações nessas redes têm efeito no mundo concreto.

Os exemplos são inúmeros. Ontem mesmo, o Jorge Araújo relatou um caso que foi comentado, discutido e levado à mídia tradicional via redes sociais online: o caso do cãozinho que foi covardemente morto a pauladas. O fato muito me lembrou o caso da cadela Preta, acontecido há alguns anos, que também foi difundido via redes sociais online (principalmente, Orkut e blogs). Diferentemente deste, no entanto, o novo caso foi difundido via Twitter, que por conta de seu forte caráter síncrono, provocou efeitos mais rápidos (ontem já estava em vários telejornais).

Mídia Social é dinâmica

As redes sociais são dinâmicas, compostas de pessoas, que têm interesses próprios e coletivos, interesses esses que podem ser alterados com o andar da maré. Essas redes na Internet são coletivos, que podem trabalhar em grupo e onde pequenas ações podem reverberar de forma maior que a esperada. Assim, é muito difícil prever como essas redes vão responder às informações. Algumas vezes, as pessoas podem articular-se, outras não. Algumas vezes podemos ter efeitos focados apenas no espaço online e, em outras, podemos ter efeitos que perpassam outras esferas da sociedade (como os protestos com relação ao "AI-5 Digital").

É por isso que o termo tem despertado tanto interesse de várias esferas da sociedade. A complexificação dos espaços de informação tem efeito na vida dos indivíduos, tem efeito na sociedade e não sabemos bem que efeitos serão esses. Lembro que há bem pouco tempo, dizia-se que o Orkut era hype e que não precisávamos estudá-lo. Hoje temos uma pequena idéia dos efeitos que o Orkut está tendo na sociedade brasileira tanto em termos positivos quanto em termos negativos. Hoje, já não pensamos com tanta certeza que o Orkut é apenas um fenômeno momentâneo. Hoje, trabalhos sobre o Orkut já não são mais vistos com tanta desconfiança. O termo já se tornou coloquial na sociedade e freqüentemente estampa matérias jornalísticas em vários meios. Depois do Orkut, outras tecnologias começaram a atingir os olhos da sociedade. As práticas sociais no Fotolog, por exemplo, que já foram extremamente cotidianas no dia a dia de milhares de jovens brasileiros, começam a ser novamente observadas. O próprio Twitter, ainda pequeno, também ganha atenção.

O fato é que estamos vivendo um período de mudanças. E para entender os efeitos de curto, médio e longo prazo dessas mudanças, é preciso estudá-las, observá-las e testá-las. E assim, para todos os profissionais e estudantes que tangenciam a esfera da comunicação, entender a "mídia social" além do hype, é fundamental.