Uma Reflexão sobre Redes Sociais Online e Offline


Há algum tempo eu já apontei para algumas idéias no sentido de como as ferramentas de rede social online (sites de rede social) são diferentes e ao mesmo tempo influenciam as redes sociais offline. Pensando um pouco mais sobre isso, decidi sistematizar algumas outras idéias. Esse texto é puramente reflexivo, mais voltado para a questão de como os sites de redes sociais, que vão ser quase simulacros de grupos sociais, vão acabar por constituirem valores e impactar com esses o próprio espaço social offline.

Minha primeira impressão foi que os sites de rede social como o Orkut não representavam redes sociais, uma vez que, para estabelecer laços sociais ali, não tínhamos interação. Com o passar do tempo, no entanto, vi que esses sites transformam os processos de estabelecimento desses laços, e que influenciam sim as redes offline. Primeiro porque essas ferramentas mantêm as redes mais conectadas, ainda que de forma mais "artificial". Segundo porque essas conexões têm impactos no capital social gerado nas redes e na difusão de informações. Assim, por exemplo, o fato de eu anexar pessoas na minha rede do Orkut faz com que essas, mesmo que não me conheçam ou interajam comigo no meu cotidiano, tenham acesso à informações a meu respeito, saibam mais sobre quem eu sou, do que gosto e, inclusive, como eu interajo. Posso receber felicitações no meu aniversário desses "desconhecidos" e mesmo receber informações deles. Assim, o site de rede social parece representar uma rede que vai além da rede social offline, uma rede maior, mais ampla, mais independente as interações sociais cotidianas e mais relacionada com o suporte tecnológico (sem o qual tais redes não existiriam).

No entanto, essas redes online vão influenciar as offline. Por exemplo, as mensagens que chegam a um determinado ator poderão ser comentadas, repassadas e discutidas com sua rede offline. Essas redes, portanto, são redes sociais, pois atuam diretamente nas estruturas cotidianas, mas são redes sociais diferentes, pois exigem outras formas de interação, outras formas de manutenção e dão acesso a tipos diferentes de capital social.

Os sites de redes sociais, assim, parecem estar atuando bastante na sociabilidade no mundo offline. Estão sendo apropriados como formas de criação e manutenção de grupos com menor investimento, como formas de acesso a capital social e mesmo, como espaços sociais. Assim, nada mais natural que as pessoas utilizem diferentes sites com diferentes propósitos. É possível, assim, que enquanto um determinado site seja utilizado como fonte de informações (por exemplo, o Twitter), por um determinado ator, outro site tenha como função proporcionar um espaço de interação com os amigos mais próximos (tenho visto isso no Plurk), outro site tenha como função apresentar uma rede social mais ampla, para que se tenha acesso ao que os outros andam fazendo (por exemplo, o Orkut), outro site tenha uma função mais profissional (por exemplo, o Linkedin) e etc. Cada uma dessas ferramentas pode, assim, ser apropriada com um fim diferente, expondo grupos sociais que perpassam a existência de um mesmo ator em diferentes níveis e com diferentes tipos de valores associados.

Portanto, podemos afirmar que os sites de redes sociais parecem ter uma influência bastante forte na complexificação da vida social contemporânea e nos processos daí decorrentes. Ao mesmo tempo em que proporcionam novos espaços de interação e novas formas de interação, proporcionam também acesso a valores sociais diferentes. Ao mesmo tempo em que permitem a organização da vida social e sua ampliação, permitem a influência dos fluxos informacionais no offline. Ao mesmo tempo em que se constituem enquanto simulacros de grupos sociais que nem sempre têm um reflexo atual, vão acabar por atuar no imaginário dos atores desses grupos e mesmo na sua percepção da sociedade que o cerca.