Internet Research Conference 10.0


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Sempre faço uma seqüência de posts sobre a conferência mas, este ano, decidi fazer um só. Estive na IR 10, em Milwaukee na semana passada. A conferência foi bastante interessante, embora um pouco esvaziada se comparada com os anos anteriores. O foco da maior parte dos trabalhos este ano, mais uma vez, esteve em redes sociais online (sites de redes sociais, amizade, privacidade, conversação e etc.), mas outros temas começaram a ganhar espaço: jogos, metodologia da pesquisa e jornalismo. O Axel Bruns fez vários posts comentando a conferência ao vivo, eu vou comentar só o que mais me chamou a atenção, embora tenha colocado muito do que pensei no Twitter.

Compartimentalizar as redes sociais

O número de trabalhos focando o Facebook praticamente duplicou. Impressionante que regiões onde antes se falavam em outras ferramentas agora trazem trabalhos sobre ele. Talvez justamente por conta da universalização do site, que não para de crescer, mesmo em regiões que anteriormente eram dominadas por outros SNSs. Embora as motivações pareçam ser mais ou menos as mesmas para o crescimento (novidade, aplicativos e efeito de rede mundial), é curioso que as preocupação também: privacidade é um grande item, seguindo pelo bullying, e pela necessidade de compartimentalização das diferentes redes sociais (um pouco do que discuti no trabalho que apresentei, feito com a Gabriela Zago e o Jandré Batista sobre redes sociais no plurk e no Twitter). E dentre essa questão, muito apareceu o fato de que as pessoas estão apropriando os diferentes sites de redes sociais de forma a gerar novos compartimentos para suas redes. Ou seja: não queremos nossas diferentes redes sociais no mesmo lugar, queremos que redes sociais construídas em lugares diferentes não se misturem. É esse o problema atual da publicização dessas redes: elas limitam as performances dos atores, pois há uma sobreposição de redes que não deveriam ser sobrepostas. Vários trabalhos mostraram essa questão, focando nos problemas que as pessoas vão percebendo em ter, por exemplo, pais/colegas de trabalho/amigos na mesma rede. Esse também é um problema que parece ser decorrente de uma certa maturação do uso desses sites de redes sociais. Assim, as pessoas criam estratégias para lidar com esse problema, seja através da criação de diferentes perfis, ou do uso de outras ferramentas ou SNSs para auxiliar a lidar com suas diferentes redes.

O que significam os laços sociais das redes online?

Outra questão que me chamou a atenção foi a investigação do que significam as conexões que são publicadas nos sites de redes sociais. O que significa a "amizade"? Que tipo de conexões são essas? De um modo geral, todo mundo parece concordar que há diferentes tipos de valores sociais "escondidos" em uma conexão de um site de rede social. Enquanto há valores que focam laços fortes, há valores simplesmente de manutenção de uma rede de conhecidos. Muitas conexões não sabemos ainda como definir, pois podem representar diferentes coisas. Do meu ponto de vista, é importante perceber que esses valores também limitam a auxiliam a determinar que tipo de informação circula naquela rede e como essas redes atuam em relação ao espaço social.Ou seja, eu acredito que essa qualidade auxilia a perceber não apenas como a rede social é apropriada mas, também, como ela atua. É uma questão fundamental que ainda permanece em aberto.

Twitter

O Twitter, apesar de continuar presente, reduziu bastante a participação nos trabalhos este ano. Os trabahos que focaram a ferramenta falaram nela como algo mais focado no impacto informacional. A danah boyd foi a única com uma abordagem um pouco diferente, mostrando como o Twitter é apropriado pelos adolescentes - poucos, mas muito barulhentos, focados na cultura das celebridades. O que faz bastante sentido: os adolescentes vêem o Twitter como um espaço que é sedutor por permitir um contato mais direto com as celebridades que admiram e com fazer-se ouvir por elas. Ou seja, embora a população de adolescentes seja bem pequena, ela é bastante barulhenta por conta do comportamento coletivo dos adolescentes, que podem passar horas criando um trending topic ou atuando em conjunto para aparecer para uma celebridade.

Esses foram alguns dos tópicos que achei interessantes e que permearam vários trabalhos. Penso que todos são boas temáticas de pesquisa, mas de uma certa forma, foi a IR com menor quantidade de novidades de que participei, o que mostra que, de uma certa forma, a pesquisa no Brasil também está amadurecendo e chegando bem próxima daquilo que se faz lá fora. Alias, este ano foram vários participantes. A Suely Fragoso, a Adriana Amaral e a Simone Sá também estiveram por lá, apresentando seus trabalhos, o que fortaleceu bastante o diálogo com regiões diferentes do mundo.