Barreiras do Facebook na América Latina: Traçando algumas hipóteses


facebook-logo.jpgUma matéria recente do Inside Facebook traz os dados do crescimento do Facebook na América Latina, mostrando que a ferramenta continua crescendo no Brasil, mas não tanto quanto no México, que lidera o ranking do número de usuários. O Brasil aparece apenas em quarto lugar em número de usuários acrescidos no mês, atrás da Argentina e da Colômbia. Reproduzo a tabela abaixo.

tabelafb.jpg


De acordo com a matéria, o Facebook cresceu menos no Brasil, que deveria liderar o ranking, aumentando apenas a metade do número de usuários que foram acrescidos em novembro. A matéria aponta ainda algumas hipóteses para o crescimento mais lento do Facebook na América Latina em relação a outras regiões do mundo, sendo principalmente a linguagem e a regionalização cultural (ser reconhecido como um site "latino").

Latin American users, with their strong regional identity, may also prefer to have a native-language network designed around their needs. Witness the recent growth of Quepasa, a new social network for Latin users that, according to a quote from its founder on HispanicBusiness.com, is “an authentically Latino site.” Facebook has a lot of localizing to do before it can claim the same.


Na verdade, creio que a coisa vai além disso. É óbvio que a língua é uma barreira sim, pois ao contrário da Europa, a maior parte dos jovens - que são os early adopters desse tipo de ferramenta - não fala inglês na América Latina. Além disso, a língua impede o crescimento escalado, pois mesmo quando atinge um núcleo que compreende inglês e fala bem, não se propaga pela rede como um todo. Isso impediu o crescimento do Facebook aqui quando o mesmo estava crescendo no mundo todo - demorou bastante para a ferramenta apresentar uma tradução para espanhol e português decente. Com isso, a ferramenta perdeu mercado para outros sites que apresentaram interfaces diferenciadas para os usuários. A maioria delas, com uma interface mais compreensiva e usável. Finalmente, o terceiro problema: com o crescimento de outros sites de rede social, o Facebook perde a chance de entrar no mercado. Simplesmente porque as pessoas não vêm valor algum em "migrar" para outra ferramenta que oferece valores similares aos das ferramentas que já utiliza.

A questão do Brasil

Muitos se perguntam por que o Facebook não dispara no Brasil, o maior país em população da América Latina e um dos maiores líderes em adoção de ferramentas sociais. Para mim, a questão vai além da regionalização - levantada pelo Inside Facebook. Creio que o Facebook tem dois problemas no Brasil: a língua e a concorrência. Apesar de óbvias, essas barreiras não são totalmente explícitas. Embora o Facebook tenha traduzido parcialmente a ferramenta para o português, por exemplo, a maior parte dos aplicativos - que são seu grande diferencial - ainda é em inglês. A interface ainda é ruim e difícil para um usuário acostumado com o Orkut. E, com isso, não há adoção consistente pelos "pequenos grupos" que possa alavancar um crescimento maior.

O que quero dizer? Um site de rede social cresce primeiro pelos laços fortes. O valor de se estar nesse tipo de ferramenta é diretamente proporcional ao número de amigos que também estão. É esse comportamento de grupo que constrói capital social. Os laços fracos começam a valorizar esses sites apenas em um segundo momento, quando já existiu alguma motivação para a apropriação de um grupo maior de usuários. É por isso que é difícil quebrar o Orkut: é preciso migrar muitos "pequenos grupos" antes de se conseguir que o valor dos laços fracos emerja através de conexões entre pessoas que apenas de conhecem, mas não têm intimidade. E essa migração só vai acontecer se o Facebook apresentar valores diferentes do Orkut (o que poderia ser o caso, se os aplicativos fossem em português e melhor explorados) que minimizem o custo inicial da migração. Como não apresenta, continua com um crescimento muito focado ainda em pequenas redes de pessoas que compreendem a língua e a interface, sem atingir um percentual alto da população como o Orkut.

Já em países de língua espanhola, o Facebook apresenta um crescimento mais consistente. Vê-se que há uma grande quantidade de aplicativos desenvolvidos em espanhol. Quizzes em espanhol estão crescendo na ferramenta, e nas listas de aplicativos mais utilizados e mais instalados é possível já ver aqui e ali, um app em espanhol, como o Entrevista tus Amigos, o Emociones de Amigos, o Frases Diarias e o Dedica una cancion. Claro que os aplicativos crescem porque cresce a população de adotantes e cresce o interesse em desenvolvê-los. E igualmente, porque o Facebook chegou primeiro em vários países latinos - como o Chile, onde o crescimento é maior, e o próprio México - onde era utilizado para manter contato com amigos e familiares que moravam nos Estados Unidos.

Claro que aqui apresento apenas algumas hipóteses para o debate. Mas vale a pena observar como a estrutura das redes sociais dos adotantes dos sites de rede social pode influenciar sua adoção por uma grande população.