Sobre Bens Virtuais


virtualgood.jpgUma das experiências que tive a respeito de bens de consumo virtuais, em uma das últimas consultorias que fiz, gerou uma pequena reflexão a respeito, que vou tentar resumir aqui. Um bem de consumo virtual ou "virtual good", é algo pelo qual as pessoas estão dispostas a pagar para usufruir online, gerando algum tipo de benefício social. Por exemplo, pagar para jogar uma fase extra de um jogo estilo WOW, ou pagar para ter direito a personalizar mais seu perfil no Orkut ou mesmo, pagar para ter direito a colocar mais fotos online. De um modo geral, esses bens têm um forte apelo nos sites de rede social, que foi o foco do meu trabalho.

Bens Virtuais em Sites de Rede Social

A compra e a venda desse tipo de bem está diretamente relacionada com o valor criado e distribuído nesses sites pelos seus usuários. Assim, quanto mais popular for o site, maior o valor construído pelas redes sociais ali. Só que as redes sociais não constróem os mesmos tipos de valores em todos os sites de rede social, e muito menos, os mesmos tipos de valores no mesmo site. Enquanto em alguns sites temos valores relacionados ao lazer, à construção da identidade, ao ser social; em outros temos valores relacionados ao trabalho, à imagem do trabalho; em outros ainda valores relacionados ao gosto musical, e etc. Por isso, para entender que tipo de "bem virtual" vai circular em cada site é preciso entender como as redes sociais apropriaram esse site e geraram tipos de valores que são importantes para os atores ali. Aliás, esse é outro ponto importante: Esses valores dependem da apropriação desses sites pelas pessoas.

Bens Virtuais e Capital Social

De um modo geral, os valores desses sites são associados com o capital social construído ali. Ou seja, o que é importante ou não, o que é relevante ou não é relacionado com a apropriação e com os valores sociais construídos nesses sites pelos seus usuários. É essa apropriação que seleciona o que é relevante ou não. Por exemplo, poderíamos discutir que a existência de um espaço maior de comentários pode ser conseqüência da apropriação de um determinado site e um valor construído pelos usuários. Enquanto esse valor faz sentido no Fotolog, por exemplo, não faz no Flickr, onde o espaço não é escasso. Enviar um presentinho virtual no aniversário de alguém que o site aponta, outro exemplo, é valorizado a partir do momento em que os aniversários passam a ser celebrados e o site utilizado como modo de cumprimentar amigos e manter laços sociais.

Assim como existem tipos diferentes de capital social, há bens de consumo que são diferentes para cada grupo. Estudando alguns tipos de RPGs no Facebook, por exemplo, descobrimos que existia uma demanda forte por bens que ajudassem os usuários a se diferenciar dos demais. A personalização de um avatar, por exemplo, era um bem virtual valorizado ali. Reparem que essa personalização era diretamente relacionada com a diferenciação social, o "ser diferente" diante da rede. Quando mais original, melhor. Esse "bem virtual" só faz sentido, portanto, diante do grupo que apropriou o jogo.

Assim, alguns elementos são importantes para pensar os bens virtuais:
  • Escassez: É óbvio que, quanto menos disponíveis estão os bens, maior a sua valorização. Portanto, um bem virtual que seja atrativo aos consumidores precisa ter um equilíbrio entre a escassez e o custo.
  • Custo: De um modo geral, as pessoas não estão dispostas a pagar muito por bens virtuais. O custo, portanto, precisa ser proporcional ao benefício de um aplicativo ou função (mais casual ou mais permanente).
  • Relevância: Os bens precisam ser relevantes no contexto em que são oferecidos. Não falo em necessidade, especificamente, mas em bens que pareçam interessantes, como um recurso que permita a compra de tempo em um jogo onde o tempo é fundamental para o cumprimento de tarefas.

Essas são apenas algumas reflexões iniciais que poderiam nortear a discussão de uma economia dos sites de rede social. É um debate amplo, que tem sido conduzido tanto na academia quanto no mercado. Interessante acompanhar.