Orkut x Facebook: Divisão de classe no Brasil?


orkutfb.jpgO último post da danah boyd retomou uma discussão antiga que ela iniciou a respeito da migração de usuários entre o MySpace e o Facebook nos Estados Unidos. O trabalho dela mostra que há também uma divisão cultural e racial entre as duas ferramentas, que ela observa através da linguagem e dos símbolos culturais construídos pelos adolescentes nas ferramentas. Ou seja, que os preconceitos e práticas existentes no dia a dia da sociedade americana são também transportados para o ciberespaço, em última análise.

Quando olhamos para o Brasil, observamos coisas parecidas. Enquanto o Orkut é o site-mor repositório do dia a dia do brasileiro, o Facebook tem crescido de forma consistente no Brasil. Ainda está longe de ameaçar o Orkut, mas cresce. A questão é: onde cresce e como cresce?

O Orkut, faz alguns anos, passou a crescer com força entre as classes menos favorecidas no Brasil. Esse fenômeno foi rapidamente etiquetado por muitos como processo de "favelização do Orkut". Ao mesmo tempo, notícias frequentemente associam o Orkut com eventos criminosos, apontando os riscos da ferramenta (um dos principais motivos pelos quais muitos banem o acesso em instituições e escolas). O preconceito com esse "novo" público foi rapidamente evidenciado. Por exemplo, olhando uma matéria recente de uma revista a respeito do Orkut, recorto algumas 'falas' dos comentaristas a respeito da ferramenta:
"é lamentável um site tão util como o orkut tenha sido dominado por esses seres sem nenhuma capacidade de raciocínio, por essas e outras que muita gente está migrando pro facebook que apesar de ter uma interface pior ainda não chegou na favela."

"destruiram o orkut tanto quanto os fakes e a “favelização”"
No meu próprio blog, recebo diversos comentários com falas semelhantes, apontando os problemas do Orkut como 'culpa' de outros usuários, aqueles das classes menos favorecidas. Essas falas apontam claramente para a construção de um preconceito. E esse preconceito, como construção cultural vai agregando outras práticas, tal como a migração das classes mais altas para ferramentas mais "seguras" como o Facebook. Dados da Nielsen Online divulgados pelo IDGNow! no final do ano passado já apontavam: o Facebook cresce mais junto às classes A e B, que estão migrando lentamente do Orkut. Outros números, divulgados pelo Inside Facebook também apontam esse crescimento no Brasil. Enquanto o Facebook soa como um espaço "salvo", "privado" e "seguro", o Orkut é frequentemente retratado como um espaço de "crime", "falta de segurança" e "risco". O que parece acontecer aqui é a mesma construção cultural da divisão de classes observada pela danah nos Estados Unidos. Estamos transportando preconceitos sociais que estão firmemente construídos na sociedade brasileira para o ciberespaço. Este post apresenta apenas alguns indícios dessa questão, que merece ser investigada mais a fundo.