Google+: Algumas impressões


google-plus-invite-application.jpgGraças ao Victor Ribeiro ganhei um convite para o Google+ há alguns dias e pude experimentar um pouco mais da ferramenta e dar uma bibilhotada. Devo dizer que, no início, não fiquei muito impressionada. Mas com o uso nesses últimos dias, pude perceber vários pontos fortes e interessantes.

Pontos Interessantes

O primeiro ponto que me chamou a atenção é a simplicidade. Ao contrário do Facebook, megapoluído, e do Orkut, idem, o Google+ é muito, muito simples. O que me faz pensar em uma ferramenta que ainda está em uma versão beta, e que tem um certo "caráter coringa", ou seja, capaz de ser adaptado para diferentes apropriações. É um approach diferente da maioria das ferramentas do gênero. No entanto, para que as pessoas apropriem a ferramenta é preciso que tenha algum valor sendo contruído ali. Esse valor me parece indefinido. De um lado, o sistema tem um foco social bem forte (praticamente central): adicionar amigos e conhecidos e classificá-los. De outro, tem um certo foco informacional (é possível direcionar para os amigos o resultado de buscas, a publicação de imagens e o conteúdo em geral). O foco social é reforçado pela melhor inovação do sistema (que o Facebook correu para copiar), o Hangout, uma espécie de chat coletivo por vídeo. Não só é rápido (ao menos, com pouca gente usando o G+), como é bem eficiente e estável.

Um segundo ponto que me chamou a atenção é a possibilidade de classificar os amigos em diferentes círculos. Para quem não viu o surgimento dos sites, essa possibilidade foi criada posteriormente pela maioria das ferramentas. Afinal, no início, só era possível acrescentar "amigos". As práticas de classificação social, entretanto, não são tão simples. Deixando que as pessoas criem seus próprios círculos pode ser uma sacada legal, pois permitem que percepções particulares dos grupos sociais sejam construídas.

Alguns Desafios

Entretanto, há vários desafios. Entrar num mercado já tão saturado sem nenhuma grande inovação é um risco grande de nascer defasado. E o G+ não traz exatamente nenhuma inovação ou um foco específico que auxilie a apropriação. Assim, acho que um dos primeiros desafios que a ferramenta vai enfrentar é, justamente, essa falta de foco. Se o foco estivesse bastante firme na informação, a possibilidade de que as pessoas te sigam (como no Twitter) sem a tua autorização é ok. No entanto, com o foco dividido no social, essa estruturação das redes é muito mais complicada. Nem todos querem estar presentes em círculos que não lhes agradam e mesmo a possibilidade de publicar informações para círculos errados pode ser desastrosa. Enquanto as ferramentas com um foco mais social têm a presença dos laços fortes como extremamente relevante (gerando valores como a manutenção de laços, a brincadeira e etc.), as ferramentas mais informativas geram valor, justamente, na presença massiva dos laços fracos (Granovetter já mostrou isso em seu trabalho de 1973: são os laços fracos que geram informação nova para os cluters). Os dois valores juntos, de forma totalizante, parecem ser complicados de ser igualmente disponíveis na mesma ferramenta.

No Orkut, por exemplo, a presença massiva dos laços fracos acabou minando o valor do sistema e gerando preocupações cada vez maiores para com a privacidade. Ou seja, quanto mais gente e mais clusterizado o grafo social lá, mais pessoas tinham acesso às informacões umas das outras e problemas foram surgindo. Enquanto há pouca gente no G+, esse desafio ainda não aparece. Mas quando o site estiver sendo usado por muita gente, há interesse em ter que dividir cada informação por círculo e ter que classificar cada pessoa para que nem todos tenham acesso às informações "sociais"? Por outro lado, o caráter informativo é relevante a partir do momento que estou recebendo informacões diferentes daquelas que circulam no meu grupo e que eu posso dividir com eles. Mas até que ponto é interessante adicionar pessoas aos meus círculos simplesmente para receber informação, quando o Twitter já faz isso e de forma mais dinâmica?

Outro desafio é a integração. Do jeito que está, o G+ é uma "nuvem" social por cima dos demais serviços Google e, embora a integração não seja completa, é possível já usar vários dos serviços via G+. Essa integração está sendo feita de modo cuidadoso, o que é esperto dado o problema que foi o Buzz. De novo, a superintegração de coisas Google é preocupante com relação a privacidade, a publicização de informações que não desejamos que sejam publicadas e ainda não sabemos disso. Por exemplo, eu mantenho poucas pessoas nos meus mensageiros, porque preciso trabalhar e não posso ficar atendendo a todos o tempo todo. Portanto, não é do meu interesse ficar online para todos os meus círculos do GTalk cada vez que entro no Google+. É um problema de integração.:)

Um terceiro desafio é o crescimento. Historicamente, uma das coisas que minou o Orkut foi a adoção massiva e rápida por um único país (no caso, o Brasil). Lidar com o crescimento da ferramenta significa também lidar com diferenças lingüísticas e culturais, que vão colidir com a adoção. Além disso, ferramentas que demandam rapidez, como o hangout podem ter problemas com o crescimento.

Estou bastante curiosa para ver como está crescendo o grafo social no G+ e que tipo de apropriações estão aparecendo ali. Esses primeiros momentos são essenciais para medir que tipo de futuro a ferramenta terá. :) Até agora, a mim parece que os desafios são grandes. Mas a apropriação pode, muitas vezes, mudar completamente a ferramenta. Vamos esperar para ver.