Sobre a perda de relevância do Twitter - Meus dois centavos


twitter.jpgO Juliano Spyer publicou um texto muito polêmico e interessante no Webinsider ontem. O texo é tão relevante que me compeliu a comentar. Basicamente, ele argumenta que o Twitter está perdendo relevância, por vários motivos, como a difusão da atenção da audiência. E como eu queria falar mais do que um comentário permitiria, escrevi aqui uma pequena contribuição para a discussão iniciada pelo Juliano, que eu admiro muito.

Mudanças no Twitter

É nítido que houve uma mudança no Twitter e na minha opinião, associada a algumas questões contextuais. A primeira delas, pra mim, é a entrada de um novo público que não era o usuário habitual da ferramenta há três anos: os adolescentes. Estes últimos entraram no Twitter seguindo, principalmente, os ídolos e celebridades que fizeram da ferramenta suas plataformas oficiais de RP e sua influência é claramente percebida na apropriação dos Trending Topics para fazer ações para os ídolos e brincadeiras entre si. O Twitter, assim, virou para esses jovens uma plataforma de relacionamento direto com os ídolos, numa ilusão de muito mais tête-a-tête do a que o MySpace, por exemplo, proporcionava. E virou também uma plataforma de ação onde é possível ganhar visibilidade do ídolo e dos demais (as "guerras" de trending topics). E, como a maior parte da mídia de massa tem representação lá, também é um terreno fértil para "reprovar" e "protestar" contra matérias que tratem indignamente essas celebridades.

Esses adolescentes ressignificaram o Twitter. Tornaram a ferramenta não apenas informativa, mas fundamentalmente, uma plataforma de ação coletiva, cujo valor não está mais na circulação de informações e na filtragem (para eles), mas na possibilidade de "falar" com o ídolo (através dos TTs, por exemplo, mas ainda com a chance de receber uma mensagem) e interagir com outros jovens que têm a mesma identificação. Como conseqüência, outras formas de ações assertivas nesses tópicos também emergiram. Com isso, há um decréscimo do valor dos Trending Topics como ferramentas informativas dentro do Twitter, já que estes passam a apresentar apenas afirmações desses fãs e não mais notícias, fatos e comentários que estão circulando por toda a rede. Esse descréscimo, entretanto, ele ocorre para o usuário que está no Twitter pela informação. Ao mesmo tempo, essas apropriações geram valores para outro público, que corre para o Twitter (fãs, celebridades, ídolos, etc.) e também mostraram que é possível usar a plataforma para ativismo, outro foco que tem crescido.

Outro elemento-chave é o surgimento do stream do Facebook (aquela home onde ficam aparecendo informações da sua rede social). Em certa medida, o stream veio para concorrer sim com o Twitter, especialmente pela atenção e pela informação social. E muitas conversações do Twitter mudaram -se pra lá. Com isso, o uso social do Twitter em geral (a exceção do caso dos adolescentes) parece ter descrescido em prol do Facebook. Além disso o stream vem concorrer diretamente com a atenção direcionada para o Twitter e há sim uma redução da atenção no primeiro.

Entretanto...

O Facebook não conseguiu substituir o Twitter em termos informativos/noticiosos e na filtragem de informações. Concordo que há um decréscimo de vários valores originalmente construídos e uma pulverização da atenção, causada principalmente pela chegada do Facebook. Mas ao mesmo tempo, temos o surgimento de outros valores (como o contato com celebridades e ídolos, que sustentou o MySpace) e o uso da plataforma como forma de ativismo social. Outro ponto importante é que mesmo o stream do Facebook sofre com a difusão de informações relevantes justamente pela quantidade de conexões que as pessoas têm e que concorrem diretamente com uma função mais informativa/noticiosa que o Twitter retém. Vejam que essas mudanças de apropriação são coisas absolutamente normais, que fazem parte da dinâmica de uso e significação humana dos valores da interação nos sites de rede social. Acontece com todas as ferramentas (o Facebook, por exemplo, despontou no Brasil com os jogos... e hoje o stream lhe deu outras funções e valores).

Assim, eu concordo com o Spyer, mas apenas parcialmente. Há uma mudança de valores, com o decréscimo de uns e o crescimento de outros que é naturalmente decorrente da apropriação. Mas não podemos falar em "perda de relevância geral" (relevância pra quem?). Há ganho de alguns públicos e perda de outros. Mas eu consideraria temerário não levar em conta o Twitter como plataforma de relacionamento de marcas e pensar que o Facebook vai substituí-lo. Ao menos, por enquanto.