Conflito de audiências e a fraqueza do Facebook


grupos-conectados.jpgNossas redes sociais, no cotidiano, nas nossas vidas, são separadas por "locus". Para cada lugar, cada ambiente onde estamos, temos expectativas de ações e modos de apresentação diferentes. Assim, no trabalho, temos uma rede social que nos conhece (em sua maioria) naquele ambiente, dentro dos modos de apresentação que são esperados naquele espaço. Os amigos, por outro lado, estão mais relacionados ao lazer e a outros modos de apresentação. A família também. E assim por diante. Em nosso cotidiano, portanto, separamos as redes sociais também de acordo com os modos de apresentação que temos em cada uma delas. "Amigos" ou "conhecidos" do trabalho podem jamais se interseccionar com aqueles dentro do grupo "família" ou mesmo dentro do grupo "amigos de infância". Ou com os "amigos" ou "conhecidos" da academia.

Entretanto, nos sites de rede social, como o Facebook, essas fronteiras entre os grupos sociais tendem a desaparecer. Como há um único "locus" de interação, tendemos a misturar todas as redes que, offline, estão separadas. Como é difícil atuar nos diferentes modos de apresentação, tendemos a imaginar uma audiência única (os "amigos", por exemplo) e adotar aquele modo. O problema é que esses modos podem entrar em conflito porque as audiências, as redes que estão conectadas ali não são separadas. Assim, estar no modo "amigos de infância" diante do seu chefe pode não ser a melhor idéia do mundo. Ou publicar aquelas fotos do churrasco do final de semana, onde você passou muito mal, para os "conhecidos" do trabalho tb. 

É por isso que uma das tendências importantes nos sites de rede social é possibilitar a fragmentação dessas redes. No caso do Facebook, ele permite que você separe as audiências e publique só determinados conteúdos para cada uma. Mas é uma divisão fraca porque esses conteúdos podem ser repassados por essas audiências para outros e dá um trabalho imenso fazer essa separação. Muitas pessoas, inconsciente ou conscientemente, fazem essa divisão através da apropriação: Adotam uma determinada ferramenta para conversar com os amigos, outra para o trabalho, outra ainda, para a família. É por isso que a conversação migra. É muito difícil um único espaço conseguir manter todos os seus grupos sociais em contato, como é o caso do Facebook. A tendência é que, com os problemas, e com a experiência, as pessoas vão separando essas redes e os espaços de conversação. (Desde "desligar" o chat, até passar a usar ferramentas substitutas para cada grupo.) E com isso, os espaços "unicos" acabem perdendo audiência e tempo de conexão nele. 

Na minha opinião, essa é a principal fraqueza do Facebook hoje. Como o seu crescimento no Brasil é relativamente recente, os primeiros problemas e conflitos entre os modos de apresentação nas diferentes redes começam a surgir. É o caso do promotor do RJ que resolveu desabafar sua raiva por estar parado no trânsito no Facebook (provavelmente imaginando essa audiência como aquela de um grupo de amigos); ou das soldados israelenses que foram punidas por suas fotos "sensuais" no Facebook, ou mesmo do assaltante que foi preso porque se exibia no Facebook. Em todos os casos, há um conflito de audiências (seja para o bem ou para o mal). Não há uma clara compreensão de quem é a audiência nesse espaço, onde todas as redes se misturam. Aquilo que você diria para seus amigos num bar pode não ser ok quando publicado no Facebook, onde diferentes audiências vão interpretar sua fala sob os seus diferentes modos de apresentação. 

Em parte, é por isso que muitos adolescentes brasileiros também buscam outros espaços de interação, como o WhatsApp, o Twitter e mesmo, mensageiros como o GTalk. E também parte de outras evidências a respeito da "saída" dos adolescentes do Facebook em todo o mundo. Eles estão entre os primeiros a perceber os conflitos de audiência, porque fazem um uso mais frequente dessas ferramentas.