A Espiral do Silêncio na Mídia Social


spiral.jpgUm estudo da Pew Internet, liderado pelo Keith Hampton, que foi divulgado na quinta passada apontou a existência, cada vez mais forte, da chamada "espiral do silêncio" na mídia social. A idéia é básica e conhecida: As pessoas tendem a fugir do conflito nas suas redes sociais (offline) e por isso, conversam sobre os assuntos que tendem a conseguir maior concordância da audiência (demais pessoas) e não sobre aqueles onde a disconrdância e o conflito podem aparecer (que são, portanto, silenciados, gerando uma inexistência da discordância). O estudo testou alguns casos polêmicos nos EUA (como o caso Snowden) e apontou que (1) as pessoas pareciam estar menos dispostas a discutir esses temas polêmicos na mídia social do que offline, (2) ao contrário do esperado a mídia social não foi apontada como uma plataforma para compartilhar opiniões de forma alternativa, (3) as pessoas tendiam a discutir os temas apenas se achavam que a audiência concordava com elas, (4) usuários de mídia social também tendem a compartilhar menos as suas opiniões no espaço offline, exceto em casos onde pensavam que a sua audiência nesses sites concordava consigo.

O estudo é bem relevante porque mostra os efeitos da mediação e do conflito na mídia social para o silenciamento dos discursos discordantes (por exemplo, aqueles minoritários numa determinada cultura) e é bastante semelhante aos que encontramos na nossa pesquisa sobre a violência na mídia social no Brasil. Vou comentar alguns pontos que eu acho relevantes:

 A mídia social torna as redes sociais mais heterogêneas. Isso basicamente quer dizer que mais gente que pensa diferente de você está mais conectado a você na mídia social (uma vez que as redes são mais complexas) do que no ofline. Ou seja, você tem mais acesso à opiniões discordantes e o conflito pode ser mais frequente com isso. Assim, ferramentas de filtragem, como as que o Facebook implementou ("silenciar", "unfollow" e etc.) são mais relevantes para as pessoas. 

Contraponto

Entretanto, acho que há uma série de diferenças aqui e hipóteses que acho que dá pra pensar. Diferenças  (1) entre Twitter e Facebook e (2) entre usuários brasileiros e americanos. Primeiro que me parece que nesse último caso, os usuários brasileiros ainda estão menos envolvidos nessa "espiral" que os americanos neste momento, o que não quer dizer que com a visibilidade dos casos de ódio isso não se reduza consideravelmente. Acho que a principal causa aqui é um pouco de falta de experiência. Segundo que enquanto o Facebook constroi uma rede mais "invisível" para os usuários - e portanto, levaria a um contato maior com discursos aliens - o Twitter constrói uma rede mais pública e visível e, portanto, poderia levar a uma maior construção da espiral do silêncio. Além disso, a "pressão dos pares" pode ser mais reduzida quando os próprios pares discordam (o que seria mais provável em redes sociais maiores, que seria o caso das redes sociais online), o que poderia reduzir essa pressão, uma vez que a rede social seria capaz de permitir a organização e a visibilidade de grupos sociais menores.Finalmente esse contato com discursos divergentes pode radicalizar o discurso da minoria ou plantar uma sementinha de dúvida e fazer silenciar ou mudar de opinião.

 Quais seriam os efeitos dessa espiral, caso seja amplificada? 

Primeiro, o maior fechamento dos grupos sociais - as pessoas tendem a usar mais ferramentas de moderação/separação/ invisibilidade, o que reduz o valor (social) de sites de rede social como o Facebook (que misturam diferentes redes) e aumenta o valor de espaços que permitem redes menores (como o Whatsapp). Segundo, um maior fechamento dos processos de difusão de informações, onde menos informações diferentes circulam nos clusters e mais informações iguais - e que buscam o acordo têm mais atenção. Temos observado, na pesquisa da violência, exatamente esses efeitos em grupos segmentados. Resta saber se são abrangentes e gerais ou não. Temas aí para bons e necessários estudos.