#15demarço


O tamanho dos protestos ontem no Brasil me surpreendeu, pois havia muito pouca mobilização nos canais de mídia social (especialmente em comparação com junho de 2013). Entretanto, esses protestos foram narrados também nessas ferramentas, embora de modo mais discreto e menos "ao vivo" que a experiência anterior. Mapeamos várias hashtags e palavras-chaves. Os mapas que vou mostrar a seguir referem-se à palavra-chave "Dilma", exclusivamente coletada no dia 15, no período do meio da manhã e início da tarde (portanto, antes da maioria dos protestos realmente começarem a pegar fogo). O mapa refere-se a um grupo de 76393 tweets. 

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A primeira imagem é o retrato da rede de tweets,retweets e citações. Ao centro, dois núcleos (um verde e um vermelho) de nós que repercutiram mais narrativas sobre os protestos. Neste caso específico, vemos uma centralização da narrativa (o que é bastante diferente de Junho, quando havia uma narrativa mais plural). Uma hipótese parcial levantada por outros pesquisadores é que neste evento tivemos uma participação de população com uma faixa etária mais velha (portanto, menos familiarizada com mensagens publicadas em tempo real), o que é bastante possível. A seguir, vemos os núcleos informativos principais por indegree (ou seja, os nós que mais receberam retweets e menções na rede - acima de 100).Observa-se uma concentração de citações nos veículos jornalísticos (que narravam os protestos) e críticos do governo.

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E neste próximo mapa, vemos os nós com maior outdegree, ou seja, aqueles que mais citaram outros nós. Vê-se de modo mais claro o centro do grafo, com os núcleos verde e vermelho mais articulados entre si. Importante salientar que ambos os núcleos tinham posições favoráveis aos eventos e contrárias ao governo. O grafo mostra apenas nós com mais de 50 tweets sobre os eventos, citando Dilma e outros nós. Os nomes dos usuários foram suprimidos por questões éticas, principalmente porque os vemos aqui como articuladores e não como elementos que estão apenas narrando os eventos.
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Finalmente, o que essa rede dizia? Para tentar entender esses elementos, mapeamos as co-ocorrências de conceitos (deixei propositalmente mais abertos os conceitos, com tempos verbais e conjugações preservadas) e seus módulos (grupos). A seguir, vemos um mapa dos principais conceitos relacionados à palavra-chave "Dilma" com mais de 200 ocorrências nos quase 100 mil tweets analisados. Os dados estão normalizados. Há, em azul, um núcleo confuso, onde há mensagens contra Dilma prioritariamente, embora outras pautas também apareçam. A presença da hashtags #MenosOdioMaisDemocracia, originalmente contra os protestos, parece ter sido apropriada pelo movimento. Também é importante ver o núcleo amarelo, abaixo, onde se concentra uma narrativa jornalistica mais forte. Outras associações fortes aparecem em outras cores. 


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Acho particularmente interessante a ausência de discursos contrários neste momento, ou seja, um silenciamento de posições em favor do governo (que apareceram em seguida, a tarde), com uma concentração de posições anti-governo. Associações como "fora Dilma", "impeachment Dilma", "intervenção militar" e "protestos governo" são particularmente fortes. No núcleo amarelo, associações como "manifestações e Rio de Janeiro" indicam a narrativa do protesto que aconteceu no RJ pela manhã.