Acidente Aéreo: Circulação de Notícias e Protagonismo dos Veículos


O papel dos veículos jornalísticos na circulação de notícias já foi debatido com propriedade por vários estudiosos, inclusive nos trabalhos da Gabriela Zago, uma das coordenadoras do MIDIARS. Hoje o mundo ficou bastante chocado com o acidente aéreo do A320 da companhia Germanwings, que caiu nos Alpes. Por coincidência, conseguimos capturar tweets sobre o acontecimento desde o início e pudemos observar algumas coisas sobre o processo de construção e circulação da notícia no Twitter.

As primeiras notícias, por exemplo, parecem ter circulado a partir de veículos especializados, ou seja, de contas que representam aplicativos de monitoramento aéreo, como o @flightradar24, possivelmente um dos primeiros a dar a informação de que o vôo tinha desaparecido dos radares e o @airlivenet. Este primeiro mapa mostra tweets referentes à primeira meia hora após o desaparecimento do avião. Observem a centralidade dos nós que representam essas contas. Acima, em amarelo, já aparece a conta da @germanwings, ainda pequena e a esquerda, em roda, a @BBCNews. Esse primeiro mapa representa 13325 tweets de 10544 contas diferentes. O termo de busca foi #4U9525, o identificador do vôo que até então estava desaparecido. Os maiores nós são aqueles que receberam maior número de citações. As vizinhanças estão demarcada por cores e mostram a repercussão de cada nó. Ok, talvez o bias desta busca seja o número do vôo, que só realmente os sites especializados teriam acesso. Então buscamos também por "germanwings", a cia aérea, no próximo mapa.

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O segundo mapa representa os tweets 45 minutos após o desaparecimento. O termo de busca foi "germanwings", para que não pegássemos apenas os sites especializados, mas também os veículos informativos. Já são 39808 contas e 50814 tweets. É interessante que mesmo nesse cluster, onde há bem mais participantes, os principais nós continuam sendo os veículos especializados, como o @flightradar24, a @germanwings e a @bbcbreaking. A esqueda, em rosa, o @airlivenet também mantém o foco de atenção, bem como o @planefinder. Aqui aparecem alguns veículos jornalísticos, como a @cnnbrk, a @reuters e, alguns franceses em menor escala (@lefigaro). É interessante notar, entretanto, que o protagonismo nas "breaking news" é dos sites especializados, mais do que dos veículos neste momento. Novamente, o tamanho dos nós é relativo ao número de citações, e as cores, à sua audiência (grupo).

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Neste terceiro mapa temos os mesmos dados anteriores, mas agora focamos em betweenness. É de se esperar que os veículos jornalísticos tivessem um papel mais central, sendo citados por diferentes grupos. Mas, novamente, vemos os sites especializados como as principais fontes, com maior centralidade (no caso, com maior número de menções entre os diferentes grupos). Isso mostra que, neste momento, as notícias que mais circulavam vieram deles e não de veículos jornalísticos.

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O último mapa vem a seguir. Este é  posterior, já feito hoje a tardinha. São 39241 nós e 46473 tweets. Agora a coisa muda de figura. Como o acontecimento em si já é de conhecimento geral, os sites especializados perdem espaço, pois o foco está mais no desenvolvimento da história do que, efetivamente, no "breaking news". Já se encontraram os destroços, já se sabe que haver sobreviventes é improvável. O foco, então, parece voltar-se para os veículos jornalísticos, que poderiam apresentar conteúdo de aprofundamento na história, reportagens, entrevistas e opiniões. Observem que a centralidade é mais esparsa no grafo e vários veículos (como @bbcbreaking, @el_pais, @cnnee, @abc_es, @bbcworld entre outros) tomam a frente (mas o @flightradar24 continua aparecendo no canto superior). Evidentemente, a @germanwings é o nó com maior centralidade. (Aqui, novamente, a centralidade betweenness dos veículos).

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É interessante observar, nesta rápida olhada, que parece que os veículos jornalísticos, mais uma vez, perdem o protagonismo nas chamadas "breaking news" (furo) para veículos especializados. Entretanto, quando a notícia já está circulando, eles a alimentam com novas informações sobre o acontecimento e seus desdobramentos. O seu papel, assim, parece estar mais no aprofundamento do que, efetivamente, no furo do acontecimento. A relação com a própria mediação entre fonte e público também é complexa, uma vez que o público tem acesso direto à fonte (o que explica a conta da @germanwings ter tanta importância) e não necessita dos mediadores aqui. Mas aparentemente, o papel dos veículos fica mais forte na cobertura quando esta começa a se desenrolar.