[24 de fevereiro de 2009]
Efeito de Rede, Tipping Point e Sites de Redes Sociais
Quanto falamos de tecnologias, há sempre um custo de adoção que precisa ser percebido como interessante em relação aos benefícios adquiridos por aqueles que as adotam. O Orkut, por exemplo, tinha um custo de adoção para a maioria dos brasileiros: originalmente era em inglês, e seu uso precisava ser aprendido. Mas tinha pontos positivos também: a interface era facilitadora. Os primeiros usuários a adotar o sistema encontraram nele vários tipos de valores, notadamente, a possibilidade de estar conectado a pessoas que admiravam e usuários com grande reputação. Para esses atores, o inglês não era um problema e rapidamente, pelo uso, passaram a construir mais valores. Foram esses usuários que criaram valores que foram percebidos por outros usuários, que foram posteriormente adotando um sistema. No efeito de rede para os sites de rede social, o valor é agregado pelo uso dos demais. É por causa desse agregado de valor que ele atingiu o tipping point e rapidamente tornou-se tão forte no Brasil.
Já o Facebook ainda está longe de atingir o efeito de rede no Brasil. Apesar da modesta adoção, o custo ainda é, para a maioria dos atores, superior aos benefícios previstos. Ele tem uma interface difícil (muito difícil), recém implementou a tradução da ferramenta (não esqueçamos o quanto a tradução para o Português auxiliou a assegurar o efeito de rede no Orkut), e não tem ainda um valor diferencial. Esse valor, no entanto, pode ser agregado através do uso de seus milhares de aplicativos (notadamente, bem mais interessantes que os do Orkut). Isso significa que, embora o efeito de rede não possa ser determinadoa priori, ele pode ser facilitado e é em através de um mecanismo semelhante que a maioria das campanhas "virais" tenta funcionar.
Através da seleção de alguns chamados "influenciadores", tenta-se gerar um "efeito de rede" no buzz, ou seja, um espalhamento da mensagem de forma marcante. Só que para isso, novamente, deve-se olhar para o valor agregado da informação e de seu uso para os atores sociais. Ao contrário da tecnologia, a difusão da informação nas redes não costuma agregar seu valor pela quantidade de pessoas que a difunde. Na verdade, como eu já tratei em alguns dos meus trabalhos sobre memes, esse valor precisa ser relevante para a rede. Mas isso é assunto para outro post. :-)
por raquel (08:49) [comentar este post]
Comentários
William (fevereiro 24, 2009 10:15 AM) disse:
Recuero, seu estudo e evidências faz-me (re)lembrar os estudos iniciais dos meios de comunicação de massa, mas então o objetivo era averiguar o efeito que era intencional de um lado (emissor) e "imperceptível" do outro (receptor). Curiosamente, o modelo atual ainda sugere quantidade, notadamente levando em conta o refinamento que tu explicas! Mas sempre me incomoda o fato da necessidade do efeito manada, a meu ver resquício de uma sociologia que desconsidera o sentimento particular. Pior: se este mecanismo não funciona, a ferramenta fenece ou muda, mas estas mudanças são sempre nesta mesma linha. Estou equivocado!?
A mudança do paradigma linear de comunicação, a meu ver, ainda não está sendo utilizado em sua essência!
Letícia Castro (fevereiro 24, 2009 6:07 PM) disse:
Oi, Raquel, tudo bem?
Quero me apresentar pra você, sou Letícia Castro, editora da Master New Media, versão em português e preciso te contar que há algumas semanas o Social Media já faz parte do nosso newsmastering, devido a qualidade dos seus posts. A MNM é um site italiano, com versão em 4 idiomas e é um dos mais importantes do mundo em publicação online.
Gostaria de te convidar a fazer uma visitinha ao site, conhecê-lo e depois pensarmos em algum tipo de parceria. O site tem mais de 1000 entradas diárias. O que vc acha?
Entra em contato comigo por e-mail também e a gente conversa melhor, tá bom?
Ah, amanhã, esse post entra na home. ; )
Beijos e parabéns pelo trabalho!
Letícia.
Soraya (fevereiro 26, 2009 11:59 AM) disse:
Raquel, o William colocou uma questão intrigante. Às vezes tenho a mesma percepção com relação aos debates sobre o assunto.
Raquel Recuero (fevereiro 26, 2009 1:19 PM) disse:
William:
Explica um pouco melhor. Qual seria o "modelo atual"? Quem é o emissor?
Do meu ponto de vista, a idéia da adoção das tecnologias - que não é minha - auxilia a discutir a questão da construção de valor. Veja, não se trata de "efeito manada", pois o valor é construído pelos atores e manejado por eles como produto coletivo. Não há um "ser supremo" ou "emissor" por trás dessa questão. Há sim, um efeito da complexidade do sistema que nasce, justamente, da interação e da negociação dos atores sociais. Se fosse linear, seria uma coisa muito simples criar um "efeito de rede". É justamente porque NÃO É que nem todas as ferramentas são adotadas assim e que a maioria dos hamados "virais" intencionalmente construídos não funciona.
Luís Gustavo (fevereiro 26, 2009 1:32 PM) disse:
Oi, Raquel. Há pouco tempo, conheci o seu blog e, ao ver as temáticas abordadas com freqüência, percebi que era a mesma pesquisadora que me serviu de fonte, quando, há alguns anos, escrevia meu TCC com o tema "Blogs como ferramenta para o webjornalismo". Agora, vi que lançaste um livro disponível na web. Infelizmente, a internet no interior da Amazônia é de péssima qualidade. Tentei baixar várias vezes, mas dá um erro no decorrer do download. Agradeceria se pudesse me encaminhar o arquivo, em anexo, por email. Seria mais uma tentativa. Valeu...
Ricardo Berlitz (fevereiro 26, 2009 7:33 PM) disse:
Muito bom seu artigo. Adoro ler posts e matéria de quem sabe o que diz e pensa. Parabéns!
Israel Scussel degásperi (fevereiro 26, 2009 9:46 PM) disse:
excelente artigo!! Leitura obrigatória a partir de agora... vc utiliza o twitter? É uma ferramenta excelente para compartilhar conteúdo e conhecer profissionais da área de comunicação. Se tiver interesse me achas no @idegasperi e com certeza te seguirei também.
Abraço!