[02 de julho de 2009]

Mídia social além do Hype

rede2.jpgHoje li dois ótimos artigos. O primeiro, do Scott Berkun, "Calling bullshit on social media" faz uma violenta crítica ao hype da chamada "mídia social", ou ainda, o uso das redes sociais na Internet como formas de mídia. A resposta, di Joshua-Michéle Ross, no O'Reilly Radar, "In Defense of Social Media" desconstrói alguns dos argumentos de Berkun e apresenta outros. Há uma discussão interessante aqui, que pensei em interferir escrevendo meus "dois centavos".

Mídia social é hype?

É claro que é. Como tudo o que é novo e que não compreendemos integralmente, é popular. Mas entendendo mídia social como essa articulação de difusão de informação nas redes sociais online, há uma diferença fundamental. Embora o Berkun afirme que redes sociais sempre existiram, a novidade é a conectividade. Graças à rede, as pessoas estão mais ubiquamente e permanentemente conectadas. Recebem mensagens o tempo todo, articulando suas redes sociais. Esse potencial de difusão de informação é novo, é decorrente dos artefatos técnicos e proporciona uma articulação social nova. Isso sim proporciona novas formas de interação (para mais sobre isso, leiam o Alex Primo). E mais do que novas formas de interação, temos novas formas de conversação, diálogos assíncronos, migrantes. A tecnologia potencializa a conexão das redes sociais, evidenciando, assim, todo um poder de articulação que ainda nos é desconhecido. Isso tudo porque não podemos esquecer do básico: Essas redes sociais não são desconectadas do mundo offline. Portanto, as ações decorrentes da difusão de informações nessas redes têm efeito no mundo concreto.

Os exemplos são inúmeros. Ontem mesmo, o Jorge Araújo relatou um caso que foi comentado, discutido e levado à mídia tradicional via redes sociais online: o caso do cãozinho que foi covardemente morto a pauladas. O fato muito me lembrou o caso da cadela Preta, acontecido há alguns anos, que também foi difundido via redes sociais online (principalmente, Orkut e blogs). Diferentemente deste, no entanto, o novo caso foi difundido via Twitter, que por conta de seu forte caráter síncrono, provocou efeitos mais rápidos (ontem já estava em vários telejornais).

Mídia Social é dinâmica

As redes sociais são dinâmicas, compostas de pessoas, que têm interesses próprios e coletivos, interesses esses que podem ser alterados com o andar da maré. Essas redes na Internet são coletivos, que podem trabalhar em grupo e onde pequenas ações podem reverberar de forma maior que a esperada. Assim, é muito difícil prever como essas redes vão responder às informações. Algumas vezes, as pessoas podem articular-se, outras não. Algumas vezes podemos ter efeitos focados apenas no espaço online e, em outras, podemos ter efeitos que perpassam outras esferas da sociedade (como os protestos com relação ao "AI-5 Digital").

É por isso que o termo tem despertado tanto interesse de várias esferas da sociedade. A complexificação dos espaços de informação tem efeito na vida dos indivíduos, tem efeito na sociedade e não sabemos bem que efeitos serão esses. Lembro que há bem pouco tempo, dizia-se que o Orkut era hype e que não precisávamos estudá-lo. Hoje temos uma pequena idéia dos efeitos que o Orkut está tendo na sociedade brasileira tanto em termos positivos quanto em termos negativos. Hoje, já não pensamos com tanta certeza que o Orkut é apenas um fenômeno momentâneo. Hoje, trabalhos sobre o Orkut já não são mais vistos com tanta desconfiança. O termo já se tornou coloquial na sociedade e freqüentemente estampa matérias jornalísticas em vários meios. Depois do Orkut, outras tecnologias começaram a atingir os olhos da sociedade. As práticas sociais no Fotolog, por exemplo, que já foram extremamente cotidianas no dia a dia de milhares de jovens brasileiros, começam a ser novamente observadas. O próprio Twitter, ainda pequeno, também ganha atenção.

O fato é que estamos vivendo um período de mudanças. E para entender os efeitos de curto, médio e longo prazo dessas mudanças, é preciso estudá-las, observá-las e testá-las. E assim, para todos os profissionais e estudantes que tangenciam a esfera da comunicação, entender a "mídia social" além do hype, é fundamental.
por raquel (09:21) [comentar este post]


Comentários

Israel Scussel Degásperi (julho 2, 2009 10:30 AM) disse:

Muito bacana seu texto e estou tentando estudar e aprender as midias sociais. Por isso procuro ler sempre seus artigos e farei minha monografia na pós sobre as marcas e as redes sociais.

@eversoncosta (julho 2, 2009 10:37 AM) disse:

Muito bom o artigo.

Hélio Basso (julho 2, 2009 10:55 AM) disse:

Oi Raquel,

Excelente tema. Aqui no trabalho, percebemos que em mídias sociais você pode encarar as novidades como movimentos cíclicos. Isso explica o porquê de uma hora quem está em voga é o Second Life, depois o Orkut, e já mais à frente aparece um movimento em direção ao Facebook. Por trás disso tudo há algo muito mais relevante do que o meio onde o internauta trafega: comportamento X acesso à tecnologia. Como você destaca ao final, estudar esse cenário, principalmente para quem trabalha com isso, será sempre uma rotina (no meu ponto de vista, muito agradável).

Abs!

mc (julho 2, 2009 11:21 AM) disse:

vou usar uma frase desse post na tese :P

Leandro Gomes (julho 2, 2009 11:56 AM) disse:

Saudações Raquel, artigo muito bom,
Essa necessidade do indivíduo em querer se comunicar alavanca várias ações em relação a comportamento e adaptações ao meio no qual ele está inserido.
Estudar estas motivações que levam a comunicação, se tornam um fator de suma importância para a compreênsão das relações sociais, entender as ações comportamentais em tempos de comunicação quase supersônicas é um fator chave para conhecer os aspectos que norteiam as necessidades do ser humano como comunicador e influenciador em um contexto de constantes mutações técnológicas e sociais.
Parabéns pelos seus estudos, força sempre.

Carlos Alex Soares (julho 3, 2009 1:03 AM) disse:

Raquel,

não achei um e-mail teu e resolvi colocar aqui, já que estudas as redes sociais. É o seguinte:
acompanhas as promoções que os famosos estão fazendo para multiplicar seguidores? Eu estava buscando seguir pessoas para ver o que falavam e ver qual é a do twitter. Aí, rapidamente me liguei nas notícias e nos relacionados ao basquete, tanto NBA quanto brasileiro. Algumas pessoas famosas que me chamam a atenção foram contempladas, comecei com Marcelo Tas, depois do meu tempo, como Léo Jaime, Roger do ultraje, Luciano Huck e depois Rubinho, entre outros. Luciano deu 5 iphones quando chegasse aos 50 mil e agora deu 5 tv's de lcd para chegar aos 100 mil. Isso foi em 10 dias, talvez menos - hoje ele fez 10 mil novos seguidores.
então Rubinho esta atrás dos primeiros 50 mil para dar capacete, macacões e, não anda o negócio... Aí ele apelou: vai dar acesso ao box no grande prêmio do Brasil de F1 quando chegar a 100 mil. em síntese: @huckluciano multiplica seguidores estalando os dedos; o segundo (@rubarrichello) quer, mas não consegue...
Bom, desculpa postar aqui, mas não tenho um e-mail teu e creio que o tema é muito interessante para quem produz com a tua velocidade, sabe tudo das redes, tem uma rede muito boa de informações, as estuda com seriedade e nos dá suporte para compreendermos o fenômeno.

depois de leres, tens meus contatos. Podes deletar. Foi o meio que achei de te relatar o que tenho visualizado e ir trocando idéias e aprendendo.

angela tijiwa (julho 6, 2009 5:05 PM) disse:

oi raquel,

Ao ler ambos os artigos que vc indica, achei interessante a colocação de Joshua-Michele Ross de que toda mídia é social. Toda mídia é de comunicação social, nos termos nas nossas ECAs. Noutro dia estava falando sobre isso. As redes de relacionamento ou redes sociais (aqui vale o termo porque poderia ser de trabalho ou publicidade apenas. Por que não começarmos a tratar essa espécie de mídia que rola na Internet como novas mídias?

Fernando Pimentel (julho 9, 2009 12:26 AM) disse:

No dia 12 de fevereiro publiquei no blog http://fernandoscpimentel.blogspot.com um post intitulado SEM IDENTIDADE. E hoje dei continuidade ao que comecei com a ajuda e com a colaboração de vários estudiosos da temática. Para quem não acompanhou a discussão, o fato consiste no seguinte: na ANPED não temos um GT que trata exclusivamente da temática das TIC e da EAD. Mas em que isso compromete o avanço das discussões?
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A realidade deste nosso 19º EPENN mostrou como precisamos de um "espaço" específico para tratar da temática, pois ela é composta de particularidades e especificidades que precisam ser discutidas, mas ainda estamos dispersos, divididos nos vários GTs e em específico no GT 16 (Educação e Comunicação).
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Após o levantamento dos dados (que podemos observar logo abaixo no texto), o encontro com alguns contatos e discussões, resolvemos dar seguimento a uma moção, recolhendo assinaturas em um dcumento que será apresentado amanhã na reunião geral de avaliação do evento.
Segue abaixo o texto completo que estaremos entregando a comissão organizadora.
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Prezados Senhores e Senhoras da Comissão Organizadora Geral,
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Nós, professores e estudntes abaixo-assinados, tendo em vista as peculiaridades da temática relacionada a Educação a Distância, como também das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) relacionadas a Educação; tendo em vista que neste 19º Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste o GT 16 (Educação e Comunicação) aresentou 66 comunicações orais (75% das inscrições no referido GT) e 13 pôsteres, dos 19 inscritos neste GT; tendo em vista a necessidade de darmos continuidade a discussões e estudos específicos sobre a Educação a Distância, como também das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) relacionadas a Educação e observando que a não concentração dos estudos, discussões e apresentações de comunicação oral e pôsteres tem prejudicado, de certa forma, o avanço de encaminhamentos pertinentes na temática, solicitamos que seja observada e discutida a possibilidade de rever a nomenclatura do GT 16 (Educação e Comunicação) ou da criação de um Grupo de Estudo (posteriormente GT) para os estudos da temática.
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Sendo assim, também nos solidarizamos com os possíveis encaminhamentos e discussões e nos colocamos a disposição para compor o Grupo de Estudo, caso seja a decisão da Comissão, ao mesmo tempo que parabenizamos pela realização do 19º EPENN.
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João Pessoa, 07 de julho de 2009.

Leandro Cianconi (julho 10, 2009 6:40 PM) disse:

Olá Raquel,

Não sei se o texto do Scott Berkun merecia todo este trabalho, os argumentos dele são auto-destrutivos.

E eu faria uma correção, o Twitter responde por uma comunicação ágil, sem dúvida. Mas está muito distante de ser uma plataforma síncrona.

Alex Luna (julho 12, 2009 9:03 AM) disse:

Olá Raquel e demais comentaristas.

Acho importante o ponto de vista do Scott. É necessário sentido crítico de vez em quando. Os meios sociais não vão acabar com a mídia tradicional, porque sempre estiveram aí. É importante para os estudiosos separar as ferramentas (twitter, Second Life ou IRC) das possibilidades (comunicação de massas em tempo real, publicação por parte de qualquer pessoa, capacidade de alcançar todo o mundo sem demanda de dinheiro).

Por ter a ferramenta disponível, não significa que vamos poder utilizá-la, ou seja, porque tenho um blog, não significa necessariamente que todo o mundo vá a ler, mesmo que eu tenha um conteúdo importante, porque existe ruído.

@Leandro o twitter não é uma plataforma síncrona ideal, porque isso ainda não existe. Só as abelhas, que eu saiba, conseguem ter uma comunidade inteira que reage e se comunica instantaneamente. Se houvesse algo assim, dada a quantidade de coisas/informações/ações/conteúdos da espécie humana, morreríamos sobrecarregados de informação.

Sempre necessitaremos filtros. O @Carlos Alex sugeriu alguns. As pessoas seguem o Luciano Huck mas não seguem o Barrichello por interesse. Ou seja, não estão interessadas no Barrichello, por razões pessoais/emocionais. Outra opção é filtrar por conhecimento: não seguem o @aplusk porque não falam inglês. Ou não seguem o @tarrask porque não o conhecem. E assim vamos, cada um de nós, escolhendo nossos filtros. Isso impede uma comunicação síncrona ideal.

Marcos (novembro 11, 2009 3:56 PM) disse:

Raquel, excelente o seu artigo sobre as métricas engajamento e retenção. Informação útil, esclarecedora e muito relevante !!!

Abs,

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