[15 de julho de 2009]

Redes Sociais na Internet e Difusão de Informações

redeforca.jpgPara a maioria dos pesquisadores é claro o fato de que as redes sociais na Internet alteram de forma expressiva o fluxo de informações na sociedade. Como a Rede mantém as pessoas conectadas (por exemplo, mesmo quando não estou online no Orkut ou no Twitter, estou recebendo as informações que a rede social propaga, que posso optar por ler depois ou não), além de permitir que qualquer um seja um potencial emissor, as informações circulam mais facilmente.

Há vários estudos quantitativos a respeito desses processos, que ganham um fôlego especial com o advento das ferramentas de CMC, cada vez mais e mais influentes nesses processos (por exemplo, os trabalhos da Lada Adamic, Eytan Adar, Mark Newman e etc.). Mas há poucos estudos qualitativos, no sentido de tentar entender, no micro, o que faz com que determinada informação seja repassada ou não. Uma das formas de se tentar compreender isso é analisando os valores que são gerados nessas transações informacionais, valores sociais e individuais (capital social), que é a principal perspectiva através da qual eu tenho trabalhado. Esses valores também podem ser estudados através da teoria dos jogos (para entender, por exemplo, a competição entre os atores pelos valorer como atenção, comentários e etc.) e de outras teorias econômicas que ainda não foram totalmente aplicadas para a Rede. Também podemos analisar o discurso dos atores para verificar que sentido foi construído e como este influencia a relação social. Ou mesmo, analisar as conversações e verificar quais informações estão sendo desconstruídas ou repassadas ali. Há muitas perspectivas.

Mas o que sabemos a respeito desses processos?

Alguns elementos parecem constantes nessas questões, ao menos, para mim.
  • A estrutura do suporte da rede influencia a difusão de informações. Observamos, por exemplo, que o Twitter parece ter um papel mais forte na difusão de informações (mais rápido, maior feedback, etc.) que o Orkut. Talvez porque tenhamos mais atenção concentrada no Twitter, talvez porque a estrutura da ferramenta proporcione um feedback mais rápido. Minha hipótese é que a apropriação da ferramenta é que influencia essa difusão e como a ferramenta é apropriada também a partir de sua limitação técnica, um influencia o outro.Assim, como o Twitter tem uma maior expectativa de simultaneidade nas trocas, bem como uma ilusão de "último minuto" para a informação divulgada, pode concentrar mais atenção e credibilidade (valores informacionais) enquanto o Orkut teria um foco mais social. Há trabalhos que relatam esses processos nos blogs, mas ainda não vi nada a respeito do Twitter.
  • A qualidade dos laços sociais presentes influencia a difusão de informações. Enquanto algumas informações parecem propagar-se melhor junto aos amigos, outras parecem funcionar melhor nos laços fracos. Eu escrevi sobre isso do ponto de vista qualitativo, mas não sabemos ainda se é possível encontrar esses padrões em larga escala. Acho que possivelmente, sim, pois os valores construídos pela rede influenciam a decisão de passar adiante uma informação ou não. Por exemplo, se você descobre um jogo muito legal no Facebook, cujo valor está também em ter outras pessoas que você conhece jogando, é provável que convide toda a sua rede e que os seus amigos respondam primeiro. Primeiro porque você não usa apenas o Facebook para ter contato com seus amigos, usa o Live Messenger, o GTalk e outras ferramentas e pode reforçar o convite nelas. Segundo, porque parte da graça do jogo é social - comentar com os amigos - e é mais provável que seus amigos te dêem atenção do que os conhecidos.
  • Os valores construídos influenciam as decisões dos atores em propagar ou não uma informação. Do ponto de vista qualitativo, os atores têm interesses variados e prospectam valores em suas interações. Assim, essa percepção gera comportamentos ativos no sentido de passar uma informação adiante. É o caso do "please RT" no Twitter. Por que as pessoas pedem que alguém repasse uma informação? Porque sabem que, quanto mais gente tiver contato com essa informação, maior a construção de valor para o ator envolvido. (Uma analogia para os brasileiros seria: quanto mais RT, maiores as chances de "aparecer" no ranking do migre.me e maiores as chances de conseguir mais seguidores, o que é um valor no Twitter.) Do mesmo modo, valores como reputação também atuam de forma marcante nesses processos. Por exemplo, se alguém que você considera um expert em Computação avisa que há um novo vírus circulando, é mais provável que você dê crédito a essa informação e a repasse a sua rede do que se o aviso viesse de alguém aleatório. Por isso questões como reputação, influência e centralidade dos atores na rede são consideradas importantes para se entender essa dinâmica.


Esses elementos que elenquei aqui são alguns dos padrões que chamam a minha atenção. É claro que são estudos ainda relativamente raros e a maioria, pouco qualitativa, focando mais em padrões amplos do que, por exemplo, em motivações individuais. Mas são pontos que precisam ser pensados e discutidos não só pelos pesquisadores, mas também por quem trabalha com mídia social. Afinal de contas, entender esses processos é entender como o buzz vai influenciar uma campanha, como as redes podem propagar boatos e mesmo, o que fazer para influenciar esses processos. É uma discussão muito interessante.
por raquel (08:12) [comentar este post]


Comentários

Thiago S Rosa (julho 15, 2009 9:24 AM) disse:

Com certeza este seu post é o inicio para um dissertação de doutorado, pela profundidade do tema e pela complexidade para condensar estas informações dentro de uma linha de raciocinio. O que posso dizer é o seguinte: nesta altura do campeonato, tem gente que tem muito poder em suas mãos e não sabe.

Bruno Borrajo de Queiroz (julho 15, 2009 10:20 AM) disse:

Parábens Raquel, acredito que neste seu post você simplificou e juntou partes do que profissionais e pesquisadores já vem debatendo a um 'certo tempo'. Acredito que o caminho certo e as conclusões ainda não existam de fato, pois como as mídias sociais, tudo pode mudar repentinamente, e novos formatos, opiniões e estudos teremos que fazer e reavaliar.

;)

guto oliveira (julho 15, 2009 12:07 PM) disse:

excelente post, raquel. concordo com você quando diz que as pessoas estão mais conectadas no twitter do que no orkut, por exemplo, embora o orkut ainda tenha um número muito maior de usuários. minha tese é de que é muito mais fácil manter (no sentido de manutenção) o twitter do que o orkut, pois para os aficcionados, é preciso atualizar fotos, vídeos, mensagens 'bonitinhas', coisas que não existem no twitter. mais fácil de usar, as pessoas acabam usando mais, com certeza. se eu entro no meu orkut, que tem fotos 'recentes' datadas de 2006, sinto o peso da frustração e me vejo na obrigação de atualizar (mas não o faço, o que me deixa para trás neste mundo virtual). o twitter é o 'fast-food' das redes sociais.

outro item que acredito que você foi muito feliz no artigo é quando diz que os valores construídos influenciam as decisões dos atores em propagar ou não uma informação e nesse quesito, tudo o que você diz é muito válido: reputação, influência, experiência e grau de aderência (quantidade de seguidores) são importantes pesos para aumentar a credibilidade da informação.

o que eu espero do twitter, agora, é que as pessoas entendam que não precisam postar que 'neste momento estão indo ao banheiro', porque tem informações que realmente não agregam valor ao dia a dia de ninguém, mas isso é uma questão de tempo, a ferramenta ainda está na fase de 'deslumbramento'.

abraços.

Marta (julho 15, 2009 12:10 PM) disse:

Prezada Raquel,

Me chamo Marta e sou estudante inglesa. Estou aqui no Rio ate o fim do mes, fazendo a minha pesquisa pela tese do meu mestrado. Principalmente estou estudando a midia alternativa feminista, ou seja, como as mulheres usam o Internet e os blogs para criar representacoes diferentes daquelas da grande midia brasileira (no contexto da democratizacao da midia no Brasil).

Eu consegui o seu site atraves de Social Media Brasil. Me daria muito prazer conversar mais com voce, ou organizar uma entrevista por email, para minha pesquisa. O que voce acha?

Espero que possamos falar em breve!

Ate mais,
Marta

(21)83777486

André Covre (julho 16, 2009 12:21 AM) disse:

Do ponto de vista da filosofia da linguagem, pegando aí pela noção de gêneros do discurso como atividade humana (Bakhtin), a partir da perspectiva do hibridismo, do intercruzamento de gêneros, atento também para questões de produção de sentidos, da questão do signo ideológico (um pouco distante, mas não tão dissonante da noção de capital social), pensando sobre o primeiro ponto que vc levantou (A estrutura do suporte da rede influencia a difusão de informações), arrisco:

A idéia da apropriação é boa, porque são as relações sociais que determinam se a ferramenta vai ser apropriada para a construção de textos nesse ou naquele gênero, influenciando na difusão de informações. Talve a noção de gêneros do discurso (em uma perspectiva bakhtiniana não formalista) possa ser interessante para trabalhar qualitativamente a questão da produção e da difusão de informações e da construção da atenção e da credibilidade.

Meu trabalho de doutorado vai tentar seguir nesse sentido. Na esfera jornalística, como a apropriação de quais ferramentas para produzir quais gêneros do discurso constribuem para a construção de sentidos, confiança, credibilidade, etc.?

Mesmo não desconsiderando as questões sobre os suportes e também sobre a conectividade das redes sociais, acredito que a qualidade dos laços sociais, por exemplo, assim como os valores construídos, são aspectos mais ligados a questão da linguagem, das relações sociais, dos processos interacionais de produção e difusão de informação...

André

Guto (julho 17, 2009 8:58 PM) disse:

Eu fico muito, muito, muito feliz quando vejo alguém a quem aprecio o trabalho escreve algo que eu penso há um bom tempo, mas que por ainda estar na graduação acabo ñ tendo mta credibilidade.

Também penso que entender como se difundem as informações lá no micro é essencial para termos mais capacidade de planejarmos o buzz de uma campanha =p Tanto que na minha monografia sobre mkt viral estou escrevendo sobre as redes sociais em um capítulo a parte.

fernando alves (julho 21, 2009 2:34 AM) disse:

legal seus posts. começei a me interessar por esse tema há alguns meses e começei a pesquisar sobre há alguns dias. muito bons. parabéns.

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